domingo, 29 de novembro de 2015

Caixa art déco “Ouriço-cacheiro” da Electro-Cerâmica – Vila Nova de Gaia


Caixa art déco, de porcelana moldada e relevada, em forma de ouriço-cacheiro estilizado, sendo a tampa a cabeça do animal. Corpo ovoide, a preto, revestido de espinhos em triângulo, lembrando escamas, sob o qual sobressaem subtilmente as patas da mesma cor. Cabeça e cauda a branco, tendo a primeira apontamentos a preto realçando focinho e olhos. No fundo da base, inciso na pasta, as letras sobrepostas «EC» inscritas num quadrado na oblíqua. Selo colado da «Vidraria Monumental - Av. Almirante Reis, 162A – Lisboa».
Data: c. 1930
Dimensões: Comp. c. 15,5 cm x larg. c. 7,5 cm x alt. c. 6,5 cm


Esta peça art déco remete claramente para a influência estilística de algumas criações de Édouard-Marcel Sandoz, caso do ouriço-cacheiro deste autor, que se ilustra, que parece ter sido a matriz inspiradora da deliciosa e simpática criatura produzida pela Electro-Cerâmica de Vila Nova de Gaia que hoje apresentamos.


Surge, certamente, na sequência da influência que esse escultor suíço radicado em França teve na produção nacional na década de 1930, bem documentada na Fábrica da Vista Alegre, que produziu, pelo menos, duas peças de Sandoz. Foi o caso de um coelho e de um saleiro-rã, este último já postado aqui no blogue, na sua versão a amarelo, em 19 de Janeiro de 2012.


A surpresa do selo de uma vidraria aposto a uma pequena peça decorativa de porcelana, talvez uma drageoire, pode indiciar uma prática comum em Portugal até aos anos 60 do século XX, a de se oferecer brindes a certos clientes. Embora nada obste a que um estabelecimento dessa natureza não pudesse também vender objectos de decoração.


sábado, 28 de novembro de 2015

Jarra com borboletas - Royal Copenhagen - Dinamarca


Jarra ao gosto Arte Nova japonizante, de porcelana moldada em forma de balaústre, com decoração policroma, pintada à mão, em tons pastel, predominantemente de cinzas azulados. No dealbar de uma manhã sem nuvens, duas borboletas esvoaçam em primeiro plano, servindo de repoussoir a uma paisagem campestre, de colinas suaves, que cinta linearmente o bojo, e onde nos apercebemos de uma pequena casa rural que desponta por detrás da curva suave de uma colina. Apercebemo-nos também da copa de árvores que lhe estão próximas. Num plano intermédio a clara presença de três árvores recortadas contra o céu opalino. No fundo da base, carimbo verde com coroa circundada por «Royal Copenhagen» sobre três ondas pintadas à mão a azul. Também à mão, a verde, nºs 925 (decor) e 88B. (forma), e a azul «53» (nº do pintor E. Gad).
Data: c. 1900 (Marca entre 1897 e 1922)
Dimensões: Alt. 13,5 cm x Ø 8,5 cm


Trata-se de um modelo de Arnold Krog, de 1893, que recebeu uma decoração executada pelo pintor E. Gad, que trabalhou na fábrica Royal Copenhagen de 1893 a 1932.


O nascer do Sol, antevisto no toque opalino da alvorada, símbolo do renascer da vida, tem correspondência no acordar das borboletas que iniciam o seu voo na paisagem ainda adormecida. O Simbolismo da pintura complementa-se no japonismo evidente da composição.

Gostamos deste tipo de peças da Royal Copenhagen. Sendo umas mais meditativas e melancólicas que outras, de uma maneira geral são apaziguadoras. Transmitem uma saudade bucólica a quem nunca viveu numa paisagem assim, mas que sente falta dela na agitação da grande cidade. 

domingo, 15 de novembro de 2015

Prato coberto art déco - Serviço Estoril – Sacavém


Prato coberto de faiança moldada, de formas geométricas ao gosto art déco modernista, monocromo azul-pálido. O contentor, circular e com pé inflectido escalonado, tem duas asas semicirculares assentes sobre mísulas escalonadas. A tampa, igualmente circular e escalonada, tem pega em forma de anel largo, interrompido. Integra o serviço de jantar Estoril. No fundo da base, carimbo verde «Gilman e Ctª - Sacavém – Portugal» e, também a verde, carimbo em forma de flor (?) de 4 pétalas.
Data: c. 1935
Dimensões: Ø 26,7 cm (com asas) x alt. 10,5 cm



 Estamos perante uma forma importada de Inglaterra. O modelo Estoril da Fábrica de Loiça de Sacavém, reparem na ironia do nome português, não é mais que a importação do modelo Casino criado, provavelmente em 1932 ou 34, pela Royal Doulton Potteries, na Nile Street, em Burslem, Stroke-on-Trent, onde foi produzido em faiança e em porcelana.


As linhas modernas, simples e práticas, mas elegantes, deste serviço art déco de vertente streamline, são concebidas no âmbito da renovação que a empresa inglesa sofre nos inícios dos anos 30, ao contratar artistas contemporâneos para conceber objectos de design para produção em massa. A forma remete para uma estética industrial em que as diversas partes parecem resultar da colagem de elementos mecânicos. O modelo Casino recebeu decoração linear: “Marquis”, “Radiance” ou “Envoy”, no original inglês, onde faixas de cor – laranja, verde ou azul, respectivamente – são complementadas por faixas e filetes concêntricos a preto.


Este modelo, produzido por Sacavém, teve um grande sucesso de vendas em Portugal, e a sua forma é ainda mais depurada nesta variante monocroma que apresentamos, por contraponto aos exemplares com decoração linear, também frequentes no mercado nacional. Quando olhamos para a fotografia ou a publicidade dos exemplares ingleses que ilustramos julgamos, de imediato, estar perante peças produzidas por Sacavém. Ver outra variante decorativa em MAFLS.


Ter serviços, então completos pior ainda, é uma dor de cabeça para um colecionador de cerâmica. Nada ocupa tanto espaço quanto estes. Agravado quando se gosta de ter os mesmos modelos nas suas diversas variantes decorativas. Peças isoladas, mas exemplificativas, de cada modelo produzido ajudam a colmatar a dificuldade. É o caso.

domingo, 8 de novembro de 2015

Jarra com bodelhas e estrelas-do-mar - Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada, bulbiforme, com decoração relevada de bodelhas e estrelas-do-mar. Duas asas em anel no estrangulamento do colo. Sobre a cor bege, apontamentos a ouro realçam, em parte, as estrelas-do-mar e as asas e circundam pé e bocal. No fundo da base carimbo a castanho «Aleluia – Aveiro» com «i» manual, a ouro, ao centro, e, pintado à mão, também a ouro, «X167-A»
Data: c. 1965
Dimensões: alt. 11 cm


O «X» indica a presença de apontamentos a ouro, seguido de «167», que será o número do modelo, e a letra «A» a indicar que se trata da primeira de uma série.

Quase sempre afinamos a datação por características estilísticas, e neste caso até a situaríamos na década de 1940, devido à linguagem tardo art déco da forma, apesar de contrariada pela agitação quase Arte Nova dos elementos ornamentais, Porém, avançamos para meados da década de 1960, na sequência do comentário de CMP aquando do peixe postado em 27 de Abril deste ano. Qualquer informação que nos possam fazer chegar, agradecemos.


A decoração em relevo remete, mais uma vez, para o ambiente marinho enquanto tema recorrente da Fábrica Aleluia-Aveiro. A maré desceu, ficaram caídas as bodelhas (Fucus vesiculosus L.), espécie de alga comum nos enrocamentos do litoral e estuários do país, que preenchem a superfície da peça com as suas ramificações onduladas e vesículas (mais precisamente aerocistos) cheias de ar, deixando entrever estrelas-do-mar. Um universo que traz para a esfera doméstica a lembrança do labor na ria de Aveiro e no litoral circunvizinho a que muita da população local se dedicava. Memórias de trabalho árduo mas também de uma natureza bela e generosa cristalizadas na produção cerâmica local.