sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Serviço de café art déco – Formato Estoril - Sacavém

Na ausência de um design industrial nacional que satisfizesse as necessidades do mercado e que acompanhasse a evolução do gosto (e, de alguma maneira, das mentalidades) no clima de renovação formal do período Art Déco, a partir de finais dos anos 20, mas mais evidente na década seguinte, a importação de modelos estrangeiros foi a solução encontrada pelas fábricas portuguesas. Ao nível da loiça utilitária já apresentámos exemplos deste princípio utilizado em várias unidades fabris, caso da Porcelana de Coimbra, com modelos sobretudo alemães, e da Fábrica de Loiça de Sacavém com reprodução de modelos ingleses, caso que mais uma vez ilustramos. Todavia, neste formato concreto, a situação é um pouco mais complexa e curiosa.


Serviço de café art déco, da vertente modernista, de faiança moldada, composto por cafeteira, leiteira, açucareiro e chávenas com respectivos pires. A chávena de café apresenta bojo ovoide truncado com base e asa lateral ondulada, de perfil rectangular fechado. Corpo branco é decorado por três filetes horizontais a azul-escuro e laranja, desencontrados, e unidos por dois filetes oblíquos mais finos a azul-escuro. O bordo da asa e a base são destacados por filete duplo a azul-escuro e laranja. Pires circular, branco circundado por filete duplo azul-escuro e laranja. Cafeteira, leiteira e açucareiro apresentam forma e decoração idênticas, embora a primeira tenha tampa com pega tricolor, branco, laranja e remate a azul, e asa vazada, e o último apresente duas asas. Trata-se do modelo Estoril, com motivo decorativo nº 933. No fundo da base, excepto chávena, carimbo verde «Gilman & Ctª / Sacavém / Portugal». Pintado à mão, a azul, «Y ou T», excepto na leiteira, e que é a única marca presente nas chávenas. Na cafeteira, inscrito na pasta, «P». No pires, inscrito na pasta, «52LO» Sacavém e, a verde, «T». Açucareiro apresenta ainda «2» a verde.
Data: c. 1935
Dimensões: Várias



O conjunto não se encontra em condições perfeitas - algumas peças estão manchadas pelo uso por café, outras apresentam pequenas falhas na pintura aplicada sobre vidrado, etc. – mas colecionar tem também um pouco a ver com o acaso e compra-se o que se nos oferece no mercado numa dada ocasião, desde que a preços razoáveis e não especulativos.




Trata-se da decoração nº 933 «para serviços de café formato Estoril em barro marfim», de acordo com o catálogo de desenhos da Fábrica de Loiça de Sacavém, existente no Centro de Documentação do respectivo Museu (MCS-CDMJA), a quem mais uma vez agradecemos. A ficha respectiva informa-nos ainda que se aplica este motivo geométrico nas combinações de cores: azul e preto; verde e preto; amarelo e preto; ouro e preto; amarelo e castanho; ouro e azul e encarnado e preto.


O modelo que está na génese do formato Estoril foi editado por Robj, em França, c. 1930 (a produção Robj encerra em 1931), em versão serviço de chá, embora fabricado no Luxemburgo onde a Villeroy & Boch tinha uma fábrica que forneceu vários modelos a este editor. Não conseguimos apurar nome ou nacionalidade do designer que o concebeu, não tendo de ser forçosamente francês.

Possivelmente chega a Portugal, à Vista Alegre, enquanto serviço de chá, por via francesa, e a Sacavém apenas na forma de serviço de café, por via do modelo Moderne, dos anos 30 (c. 1935), da firma inglesa Carlton Ware, forma 1246, que reproduz o modelo de Robj, em versões de açucareiro com e sem tampa. A decoração do serviço de Sacavém provém também da Carlton Ware onde recebeu o nome Rayure. Trata-se de um bom exemplo da circulação internacional do design moderno de formas que se tornaram mais populares no período de Entre-Guerras.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Base bolos Colditz AG – Alemanha

Voltamos hoje às bases de bolos com decorações a aerógrafo alemãs, pois a nossa colecção é abundante neste tipo de objectos e poucos temos aqui partilhado.


Placa circular de faiança moldada de rebordo ligeiramente levantado. Sobre a cor branca de base recebeu decoração policroma abstracta de motivos geométricos estampilhados e aerografados em esfumado. A composição é tripartida por segmentos de recta, formando ângulos, a amarelo, que enquadram um conjunto de círculos e cruzes de diferentes tamanhos, a rosa-avermelhado e azul. Rebordo a amarelo igualmente a esfumado. Assenta sobre anel. No fundo da base, carimbo preto 4748 (Decor).
Data: c. 1933
Dimensões: Ø 30 cm


O nome «Colditz» aparece associado a três fábricas da Saxónia. Uma, fundada em 1828, começou por se denominar Keramik Werke Strehla, G.m.b.H., passando a designar-se, em 1927, Steingutfabrik Colditz AG, Abteilung Strehla, na cidade de Strehla an der Elbe, junto ao rio do mesmo nome. As outras duas localizam-se na cidade de Colditz: a Thomsberger & Hermann Steingutfabrik AG, fundada em 1804, e a Steingutfabrik Colditz AG.

De todas mostraremos futuramente peças, mas iniciamos hoje com uma base para bolos da última. A Fábrica de Faiança Colditz AG foi fundada em 1907, e dirigida até 1935 por Otto Zehe. A fábrica foi expropriada em 1948 e foi-lhe dado novo destino. A ela haveremos de voltar com maior notícia.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Cinzeiro 534/A – Aleluia - Aveiro


Cinzeiro de forma tendencialmente poliédrica, com cinco faces de ângulos arredondados dentro da organicidade das freeforms. Na face aberta projecta-se uma gola onde se inscreve o suporte para o cigarro. O interior é aerografado, em esfumado, a castanho-escuro, com o canal para o cigarro pintado à mão da mesma cor embora mais carregada. Exteriormente a superfície foi estampilhada à mão a verde, deixando em reserva bandas sinuosas brancas que foram polvilhadas de pontos a amarelo-torrado. No fundo da base, carimbo preto «Aleluia Aveiro», com «c» pintado à mão, no interior (marca do pintor), sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, a preto, 534/A (modelo e decor).
Data: c. 1955-60
Dimensões: Alt. 9 cm x comp. 11 cm


Cores e decoração remetem a presente peça para a mesma série da taça que postámos em 3 de Novembro de 2013. Embora sem motivos marinhos precisos, o movimento da peça, quer pelo arredondado que a forma de sólido geométrico recebeu, lembrando um seixo rolado, quer pelo sinuoso da decoração, como algas ondulantes, sugere um universo aquático.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Prato de suspensão art déco com chinês vendedor de peixe - K et G Lunéville - França



Prato de suspensão circular e lenticular de faiança moldada. Sobre a cor branca recebeu decoração policroma estampilhada e areografada estilizada ao gosto art déco. Um vendedor de peixe ou pescador oriental, de chapéu largo e vestes longas, em movimento para a direita, mas com a face, onde se destacam os bigodes descaídos, voltada no sentido oposto, transporta, em equilíbrio sobre os ombros, uma vara de onde pendem peixes. Braços ao longo do corpo segurando um grande peixe em cada mão. A vara, à qual estão atados os peixes, opõe-se à curva superior do prato, enquanto que os pés, calçados com tamancos encurvados, e parte inferior do vestuário, curvam para formar uma linha paralela ao bordo inferior. A composição é contida por moldura circular formada por filete e fita segmentados a preto e castanho-mel. Este prato é um exemplo raro em que a assinatura do artista Géo Condé (1891-1980), no caso o seu monograma «GC», se integra na decoração, como se um dos padrões geométricos tivesse fugido da decoração do traje. No fundo da base, carimbos a verde, «K e G / Lunéville / FRANCE» e algo ilegível. Inscrito na pasta, o que parece ser umas lunetas e «B».
Data: c. 1930
Diâm: 32,2 cm


A personagem resultará de uma interpretação livre de uma estampa do Extremo-Oriente. A composição gráfica da figura, minuciosamente elaborada, implicou a utilização de quatro estampilhas distintas. Apesar de limitada a quatro cores (azul, amarelo, castanho-mel e preto) parece ostentar uma policromia mais diversificada. Tal impressão visual resulta do recorte pormenorizado e também da justaposição repetida das cores.

Parte da presente descrição baseia-se no conteúdo que acompanhava a peça exposta na exposição que o Musée de L’École de Nancy dedicou a Geo Condé (1891-1980), de 18 de Novembro de 1992 a 28 de Fevereiro de 1993.

domingo, 5 de outubro de 2014

Jarra art déco azul mosqueada com montagem de bronze – Paul Milet-Sèvres



Jarra art déco de faiança moldada em forma de balaústre, com decoração azul mosqueada, de tom mais profundo na base aclarando em direcção ao bocal. Guarnição de bronze cinzelado e martelado, de motivos geométricos, envolve a base, formando pé, e o bocal, de onde pende, com vazados, até à parte mais larga do bojo. No fundo da base, pintado à mão a preto-esverdeado, duplo L entrelaçado em espelho, enquadrando flor-de-lis, e sobrepujando «Sèvres».
Data: c. 1920-25
Dimensões: Alt. 37 cm


O tipo de vidrado e a montagem de bronze indicam-nos que se tratará de uma peça da Manufacture MILET (1866-1971) que nos finais dos anos 10 e inícios da década de 20 terá utilizado para marcar parte da sua produção um símbolo que remete para a marca que a Manufactura Nacional de Sèvres utilizava no século XVIII.
 
Já aqui postámos peças com o carimbo circular pontilhado envolvendo MP Sèvres utilizado pela empresa antes de 1930, com as iniciais de Paul Milet (1870-1950), na ordem inversa.