sábado, 30 de agosto de 2014

Caixa oitavada art déco com motivo de flores semicirculares - Aleluia - Aveiro


Caixa art déco de faiança moldada e relevada, de cor creme, estampilhada e pintada á mão com motivos geométricos e florais em tons de castanho. Oitavada, as faces menores, côncavas, são decoradas por meias flores estilizadas formadas por semicírculos concêntricos castanho-mel, complementadas por finas hastes curvilíneas e folhas. Nas faces mais largas, a castanho-escuro, sobressaem “contrafortes” embutidos que elevam a caixa e formam os quatro pés, decorados por duas fiadas de rectângulos a castanho-escuro, desalinhadas e unidas a eixo que se destacam sobre a cor creme. No topo da tampa, ao centro, eleva-se uma estrutura cruciforme escalonada em que assenta a pega tronco-piramidal. Espelhos a castanho-escuro e topos a castanho-mel. No fundo da base, dois carimbos a preto «Fábrica Aleluia – Aveiro» e «Fabricado em Portugal» inscrito em rectângulos. Pintado à mão « e, inscrito na pasta, «25».
Data: c. 1930 - 35
Dimensões: Alt. 9 cm x lado 10,6 cm


Trata-se do modelo nº 25 com a decoração E. Não aparece referida no Catálogo de loiças decorativas de inícios da década de 40, onde só encontramos a peça nº 25-A, a primeira da série, que teremos oportunidade de mostrar em breve.


A qualidade do seu design, com um elaborado jogo de volumes, quase que arquitectónico, remete-nos para uma possível filiação estrangeira que ainda não descobrimos. Porém, e como sempre, a Aleluia-Aveiro soube “nacionalizar” as influências externas e a partir delas criar algo de original. A solução dos pés, por exemplo, é particularmente comum em móveis coetâneos que então por cá se fizeram (a título de ilustração veja-se a peça de mobiliário abaixo que, embora redonda e vazada, cumpre o que atrás se referiu). Em ambos os casos, encontramos ecos de um gosto que a arquitectura modernista portuguesa veiculou. Aliás, esta contaminação entre as diferentes artes é uma constante, como temos referido.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Placa decorativa com veado Lusitânia – Coimbra


Placa decorativa de suspensão rectangular, art déco, de faiança moldada e relevada, vidrada a mate cor de marfim, craquelé, com representação de veado numa floresta. A cena é enquadrada por barras laterais lisas formando moldura. Dois furos laterais, com fio, permitem a sua suspensão. No fundo da base, carimbo estampado verde, pouco legível, Lusitânia - ELCL – Coimbra – Portugal]
Data: c. 1930 - 35
Dimensões: Comp. c. 32,5 cm x Larg. 25 cm
 

A peça remete para a ideia de um baixo-relevo pétreo com o bujardado do fundo a fazer ressaltar os elementos escultóricos. Mais um exemplo nacional de um tema particularmente grato ao Art Déco.
 
A imagem do cervídeo tende para uma representação naturalista, e vimos nela um desejo de figuração ancestral próximo do que encontramos em pinturas rupestres, embora o elemento vegetalista, estilizado e que tudo envolve, seja estranho a essas obras. A posição inclinada do corpo, metáfora de movimento, cortando na diagonal a cena, é idêntica às encontradas em Valltorta (Castellón) - Espanha, por exemplo, sobretudo quando observado de tardoz. As cenas de caça em que os animais são perseguidos reduzem-se nesta placa à visualização de um único elemento retirando-lhe um contexto preciso.


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Prato de cozinha art déco com rosas abertas – Sacavém


Prato de cozinha de faiança moldada, de temática idêntica ao postado em 11 de Agosto passado, embora, este sim, com a decoração nº 1161 «para malgas e pratos de cosinha», em que apenas duas rosas abertas, e de outra variedade, se destacam sobre a folhagem, e cujo desenho, mais uma vez, se ilustra (reiteramos os nossos agradecimentos ao Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso pela cedência da imagem). Mais frequente que o motivo anteriormente postado, quando posto em confronto com o das rosas a abrir perde em qualidade plástica e técnica, sendo a pintura a aerógrafo menos bem conseguida com as flores sem volume.
 
 
Para além da decoração, este prato é de dimensões um pouco mais reduzidas. No fundo da base, apresenta carimbos a verde Gilman & Ctª – Sacavém – Made in Portugal, R e 1161.
Data: c. 1930-35
Dimensões: Ø 32 cm x alt 5 cm

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Tabuleiro para marmelada - Sacavém



Peça de faiança moldada, rectangular, com decoração estampilhada e aerografada, para marmelada. Bordo e base aerografados a castanho em esfumado enquadrando, nas faces laterais principais, numa caligrafia art déco ao gosto dos anos 30, a palavra «Marmelada» estampilhada e aerografada a preto. No fundo da base, carimbo estampado verde «Gilman & Cta – Sacavém» e «Portugal». Carimbo preto «DP 4»
Data: c. 1935 - 50
Dimensões: Comp. 20 cm x larg. 14 cm x alt. 5 cm

 
Exemplar idêntico, com outra cor, pode ser visto em MAFLS, para além de mais informação adicional.
 
Esta peça, para o mesmo uso, aparece muitas vezes associada a publicidade de casas comerciais. Um exemplo pode ser consultado no catálogo da exposição 150 anos, 150 peças: Fábrica de Loiça de Sacavém, pág. 116-117, realizada no Museu de Cerâmica de Sacavém de Março a Novembro de 2006.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Tabuleiro art déco para aperitivos - Lunéville – França


Tabuleiro art déco para aperitivos (?) de faiança moldada, tri-compartimentado, com decoração estampilhada e aerografada, policroma. Motivo central de marinheiro ladeado por duas peixeiras. No fundo da base, carimbo estampado verde K & G – Lunéville - France.
Data: c. 1925
Dimensões: Comp. 29,5 cm x 16,5 cm


Mais uma peça de Géo Condé para a Fábrica Keller & Guérin, em Lunéville, na sua inconfundível linguagem estilizada que, de certa maneira, nos recorda alguns trabalhos de Almada Negreiros.
 
Exemplar idêntico integrou a exposição «Art Déco: la céramique de Lorraine, 1919-1939» realizada no Museu de la Faïence de Sarreguemines, de 21 Outubro 2011 a 29 Janeiro 2012.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Escultura art déco jovem mulher nua cavalgando antílope –Hutschenreuther - Alemanha

 
Grupo escultórico art déco de porcelana moldada de cor branca com realces a ouro, representando uma jovem mulher nua cavalgando antílope. Inscrito no plinto a assinatura do autor M. Herm. Fritz [Max Hermann Fritz]. No fundo da base, estampado a verde:«Hutschenreuther», «Selb Bavaria»; «Abteilung für Kunst», e a ouro, pintado à mão, o nº 55.
Data: 1927 (marca 1920-1938)
Dimensões: Alt. 25 cm x comp. c. 30 cm


Interrompendo um longo período em que não postámos peças decorativas escultóricas, apresentamos hoje mais um exemplar da nossa pequena colecção da fábrica de porcelanas Hutschenreuther. Trata-se de dois motivos recorrentes do Art Déco: o antílope em movimento, e a mulher nua enquanto símbolo de modernidade e de libertação do corpo feminino. Neste caso, a jovem mulher, de cabelo curto à moda de então, controla com segurança a força bruta do animal captado em pleno salto.


Embora naturalistas, há uma subtil simplificação das formas que contrasta com a abstração dos elementos vegetalistas que suportam o conjunto criado, em 1927, por Max Hermann Fritz. As arestas da vegetação, realçadas a ouro, acentuam os elementos abstractizantes, maioritariamente de linhas quebradas, enfatizando o movimento da corrida, numa indirecta filiação futurista.

Produzido até 1946, o modelo aparece referenciado com o nº 0609/1 na página 9 do catálogo da fábrica do primeiro ano da sua criação.


Max Hermann Daniel Fritz (1873-1948) foi aluno de Lorenz Hutschenreuther e escultor de raiz autodidacta com algum mérito. Concebeu também peças escultóricas para as manufacturas de porcelana de Fraureuth, Hutschenreuther e Rosenthal. Foi seu tema de eleição a animalística, em especial os ursos, por vezes complementada por figuras femininas, como é o caso, ou por putti que também surgem isolados.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Prato de cozinha art déco com rosas - Sacavém

 
Prato de cozinha de faiança moldada, formato circular com aba larga e lisa. Decoração central estampilhada e aerografada, policroma, sobre fundo branco vidrado, onde se destacam duas rosas cor-de-rosa quase abertas com as respectivas folhas verdes e três rosas em botão, tendencialmente naturalistas, sobre folhagem miúda, a cinzento-azulado, estilizada. Bordo com barra aerografada a cor-de-rosa que se esfuma em direcção ao centro. No fundo da base, carimbos verde Gilman & Ctª – Sacavém – Portugal, 3 (?) e –5 (?). Inscrito na pasta algo ilegível (Sacavém?).
Data: c. 1930-35
Dimensões: Ø 37 cm x alt 6,3 cm
 

A técnica da estampilha com pintura a aerógrafo, em esfumado, dá corpo e volume às flores e folhas, que sobressaem sobre o emaranhado da folhagem cinzenta, mais uniforme no tratamento cromático e que funciona como repoussoir.

Tratar-se-á de uma variante da decoração nº 1161 «para malgas e pratos de cosinha», que aqui se ilustra, e que apresenta flores mais abertas e sem botões (imagem gentilmente cedida pelo Museu de Cerâmica de Sacavém - Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso).
 

Este tipo de imagens aerografadas foi muito utilizado na Alemanha nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente com motivos de frutos, que Sacavém também copia como teremos oportunidade de ilustrar. A França, com esta técnica, de uma maneira geral, mantinha-se fiel às composições figurativas estilizadas de gosto art déco, fossem elas vegetalistas, animalistas ou antropomórficas, habitualmente sem esfumados, que vinham, pelo menos, desde os inícios da década de 20. Todavia, cerca de 1930, por razões históricas e geográficas, algumas fábricas francesas, caso de Sarreguemines, cidade que havia sido a alemã Saargemünd, também apresenta alguma produção similar, embora menos consistente que as congéneres germânicas que haviam avançado por um experimentalismo de vanguarda revolucionando, a partir da segunda metade dos anos 20, as composições decorativas que tendem para a abstração e o geometrismo como temos várias vezes referido e ilustrado.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Caixa art déco aerografada – Carstens-Gräfenroda - Alemanha


 
Caixa (boleira) art déco de faiança moldada e relevada, quadrangular, de cor creme com decoração policroma estampilhada e aerografada simulando “costuras”. A taça, mais larga no bocal e estreitando na base, apresenta quatro faces rectangulares cortadas na diagonal que, na parte superior são lisas e areografadas a laranja, e na inferior são caneladas. O triângulo inferior, canelado e de linhas paralelas transversais à diagonal, recebeu parcialmente pintura a aerógrafo, num tom carmim, que extravasa para o triângulo superior num castanho-esverdeado, remetendo para uma ilusão óptica de grandes costuras. A tampa, quadrada e plana, é cortada nas diagonais por estampilha aerografada a laranja sobre as quais recebeu “costuras” idênticas às da taça. Ao centro, pega esférica a laranja. Assenta sobre pé saliente num tom carmim mais escuro. No fundo da base carimbo preto, em forma de escudo, com a inscrição «Carstens» e «C G» sobrepujado por «Gräfenroda». Carimbos igualmente a preto com «D. 1700», «22», «C» e «.U (?) 5»
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. c. 11 cm x larg. 13,3 cm
 

A grande diferença entre a presente caixa e a sua congénere portuguesa, que ontem postámos, é a forma da tampa que neste caso é plana e com pega esférica. Todavia, as diagonais da decoração da tampa deste exemplar germânico remetem para a forma piramidal da solução portuguesa.

Embora o efeito plástico final seja distinto em ambas as peças não deixa de ser interessante notar que, em nossa opinião, nas duas o efeito óptico obtido remete sempre para o têxtil. No caso da caixa alemã é como se a pintura a aerógrafo simulasse grandes costuras num tecido grosso como lona.
 

Dada a ausência de criativos na área do design nas indústrias cerâmicas em Portugal antes da década de 50 do século XX dificilmente seria a Alemanha a copiar um modelo português pelo que foi a forma desta caixa que levou à concepção da peça da Lusitânia-Coimbra que, por sua vez, também será mais tardia.

A cor laranja que tão frequentemente vemos em peças até à década de 1960, e que já referimos como sendo a cor art déco por excelência, provém de um esmalte cerâmico de urânico. Este minério e seus compostos “coloridos” foi muito utilizado em esmaltes cerâmicos para a mencionada cor laranja, mas também para certos tipos de amarelo e preto, por exemplo, e para obter vidros de cor verde-maçã.
 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Caixa quadrangular Lusitânia - Coimbra

Depois de uma longa ausência, estamos de volta ao blogue. Esperamos voltar de forma mais assídua a estas andanças cerâmicas e manter o contacto com os nossos seguidores. Retomamos com uma peça portuguesa que, a princípio, parecendo estranha no panorama nacional, acabou por se revelar mais um elo no entretecer das influências da Europa Central na nossa cerâmica.
 

Caixa (boleira) art déco de faiança moldada e relevada, quadrangular, com decoração estampilhada e aerografada, a castanho-mel, de motivos geométricos e florais. A taça, mais larga no bocal e estreitando na base, apresenta quatro faces rectangulares cortadas na diagonal que, na parte superior são lisas e na inferior são caneladas. O triângulo inferior, canelado e de linhas paralelas transversais à diagonal, recebeu pintura a aerógrafo que, em esfumado, realça o relevo. O triângulo superior, liso, foi decorado com motivo vegetalista, igualmente estampilhado e aerografado, num intrincado de hastes, pequenas flores e folhas estilizadas. A tampa, quadrada e suavemente piramidal, tem, nas quatro faces, decoração semelhante à da parte inferior da taça, embora o canelado esteja alinhado da esquerda para a direita formando um efeito óptico diferente. No seu centro uma pega cúbica, rematada por pirâmide baixa, reproduz, de forma simplificada, a decoração da caixa propriamente dita. Assenta sobre pé saliente a castanho-mel. No fundo da base carimbo verde Lusitânia - FLCL – Coimbra – Portugal.
Data: c.1930-35
Dimensões: Alt. 12,5 cm x larg.17cm

 
Mais um exemplo de como a partir de modelos estrangeiros, germânico como é o caso, a produção nacional concebeu uma peça utilitária e decorativa com alguma originalidade para consumo popular. A modernidade bauhausiana do padrão óptico linear, quase um tecido pregueado, é contrariada pela presença da padronagem floral miúda que remete para um tecido estampado, numa composição que lembra o patchwork. A peça alemã, da Carstens Gräfenroda, que serviu de modelo a esta versão nacional será apresentada no próximo post.