quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Taça art déco de Odette Chatrousse e Auguste Heiligenstein - França


Taça de grés com decoração art déco relevada vegetalista de esmaltes policromos e realces a ouro, tanto externa como interiormente, de bojo nervurado com caneluras céladon cintado superiormente por grinalda de folhagem estilizada verde e bagas a azul-real, ambas contornadas a ouro, que, em três partes geometrizadas pendem sobre as caneluras. Bordo a ouro “à accidents”. A taça assenta sobre pé em anel a verde e ouro. No côvo, envoltas por círculo verde, bagas a azul-real caídas sobre ouro. No fundo da base, pintada à mão, a preto, OC inseridos num H (iniciais dos autores).
Data: c.1925
Dimensões: Alt. 6,4 cm x Ø13 cm


A taça é bem um exemplo do trabalho conjunto da dupla de artistas que constituiu o casal Chatrousse e Heiligenstein.

Auguste Heiligenstein (1891-1976) começou como aprendiz de decorador na Fábrica de Vidro Legras & Cª entre 1904 a 1906. Contratado pela Cristalaria de Baccarat, aí permanece entre 1907 e 1912 enquanto frequenta o ensino nocturno da Escola de Artes Decorativas. 

Após a Grande Guerra, entra para a Maison Geo Rouard onde executa decorações em esmalte sobre vidro da autoria de Marcel Goupy. Em 1923, após deixar Rouard, casa com a ceramista Odette Chatrousse (1896-1989). A par do trabalho sobre vidro vai começar uma parceria com a sua mulher no campo do esmalte sobre cerâmica. Tendo participado em inúmeras exposições, recebe uma medalha de ouro na Exposição das Artes Industriais e Modernas de 1937.

É sobretudo o período entre guerras, principalmente após o casamento, que vai marcar o apogeu dos dois artistas e torná-los incontornáveis na história das artes decorativas da primeira metade do séc. XX no Ocidente. 


No atelier parisiense que Odette herda do seu pai, o escultor Emile Chatrousse, trabalham ambos a cerâmica e o vidro. Por vezes outros artistas como Mayodon aparecem para trabalhar e cozer as suas criações. Odette decora peças que manda executar a oleiros a partir de desenhos seus. Antes do casamento havia trabalhado principalmente para as Galerias Lafayette que abriram o seu atelier de decoração moderna, dirigido por Maurice Dufrenne, em 1921.

Os pratos, taças, jarras, muito decorativos num estilo floral e geométrico já em moda e que triunfará na exposição de 1925, são ornamentados em esmaltes ricamente coloridos. Rapidamente as cores restringem-se e harmonizam-se numa gama de azuis, do turquesa ao azul real que contrastam com o dourado. Esta gama de cores irá ser, também, a imagem de marca do atelier de vidro esmaltado de Heiligenstein. Este, de 1923 a 1935, vai assim trabalhar paralelamente o vidro e, com a ajuda da mulher, a decoração sobre cerâmica. Essencialmente a sua participação técnica nas peças de Odette restringe-se à aplicação de realces a ouro, em segunda cozedura, nos contornos dos motivos feitos a esmalte.

A aplicação a ouro utilizada durante este período remete para Mayodon, sobretudo para a sua técnica do ouro “à accidents” com o qual decorava o fundo das suas criações, como é bem evidente na taça que mostramos. Trata-se de um ouro velho, cheio de imperfeições.

Fruto de uma colaboração estreita, Odette e Auguste influenciam-se profundamente na gramática decorativa e nos temas que utilizam quer no vidro quer na cerâmica: o amor pela natureza, o Oriente, a Antiguidade Clássica.

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