domingo, 29 de setembro de 2013

Jarra Solitário Anos 50 – Modelo 815 - Aleluia - Aveiro


Jarra solitário, de faiança moldada, em forma de jarro curvo, com três faces, estreitando da base para o bocal, com aleta igualmente curva onde se inscreve abertura circular. A parte da frente, convexa, de cor branca, recebeu decoração geométrica de linhas a preto que se entrecruzam obliquamente na vertical, cortadas pontualmente por segmentos de recta, também a preto, formando pequenos trapézios a azul e laranja. As duas outras faces são côncavas, a preto, com a cor branca a cobrir o rebordo exterior da “pega” e o interior da abertura circular. No fundo da base, carimbo castanho «Aleluia Aveiro» em cujo centro aparece um I pintado à mão, a preto, sobrepujando carimbo da mesma cor «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo, e, à mão, a preto, 815.
Data: c. 1955 - 65
Dimensões: alt. c. 40,7 cm


Mais que um objecto decorativo com função específica, como a denominação “jarra” nos poderia indicar, trata-se de uma peça essencialmente escultórica. Situação, aliás, comum a outras peças da Aleluia-Aveiro que temos apresentado.


Não foi por acaso que quando a vimos imediatamente estabelecemos uma associação formal com o projecto vencedor do concurso internacional, realizado em 1958, para o monumento ao Infante D. Henrique a erguer em Sagres e inviabilizado pelo governo (Salazar não gostou do arrojo …).

Baptizado «Mar Novo», o projecto, concebido em 1957, é do arq. João Andresen (1920-1967), em co-autoria com o escultor Barata Feio (1899 – 1990) e o pintor Júlio Resende (1917 -2011). O título da obra poética homónima de Sophia de Mello Breyner Andresen é uma homenagem ao trabalho do seu irmão João. 


Vela enfunada aberta ao Atlântico, esta monumental obra ímpar, simbólica e de prestígio, parafraseando José-Augusto França, obviamente com impacto na época, poderá ter inspirado o autor da peça cerâmica. O que acha CMP?

A decoração, aliás comum a várias outras formas, é de um grafismo mondrianesco, que enfatiza de forma irónica, naturalmente inconsciente, a monumentalidade da vela enfunada, aqui rasgada e remendada. 


A modernidade da forma continua actual como se pode ver em projectos de arquitectura contemporânea, nomeadamente em edifícios recentes erguidos nas cidades petrolíferas do Golfo Pérsico (ou Arábico, que não queremos ferir susceptibilidades …).

4 comentários:

Maria Andrade disse...

Hoje coincidimos nas jarras, embora com formatos muito diversos e com mais de cem anos a separá-las.
A produção Aleluia realmente distinguiu-se no panorama cerâmico português de meados doo século XX!
Gosto particularmente desta decoração numa peça que é sobretudo escultura, como referem.
Parabéns pela jarra e, mais uma vez, pela magnífica coleção que aqui vão partilhando.
Um abraço

CMP* disse...

Olá AM-JMV,
mais uma bela adição à vossa colecção. Parabéns!
Apesar das semelhanças formais, não vejo uma relação tão literal entre esta peça e projecto para o malogrado monumento de Sagres. No entanto, é uma possibilidade a considerar, já que a jarra deverá datar da primeira metade da década de 60. Claro que revela óbvias reminiscências da produção escultórica e arquitectónica internacionais, para não falar da produção cerâmica :)
Acrescento ainda que esta decoração é a 'A', embora não esteja marcada e que foram ainda feitas as versões 'B' e 'C', respectivamente rosa e verde, ambas decoradas com decalques. Não conheço estes exemplares, mas calculo que não tenham metade do interesse.
Saudações,
CMP*

AM-JMV disse...

Cara Maria,
Cem anos não são nada em termos de criatividade. Cada uma refecte a época em que foi feita,suas sensibilidades e gostos. E todas as épocas oferecem coisas extraordinárias. Tomáramos nós ter espaço e dinheiro ...
Beijos

AM-JMV disse...

Olá CMP,

Nada como uma fonte bem informada para complementarmos dados. Também achamos que a forma revela clara influência internacional, nem outra coisa seria de esperar. Situação, aliás, comum com o referido monumento que pouco tem de autóctone.
Abraços