segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Serviço de chá art déco - Massarelos - Porto


Parte de serviço de chá art déco, de faiança moldada, composto por bule, açucareiro, leiteira e manteigueira, de cor branca com decoração geométrica, de rectângulos e triângulos, estampilhados e aerografados a azul e cor-de-vinho, em esfumado, com apontamentos à mão, a castanho, nas asas, pegas e bicos. No fundo da base, carimbo preto (marca utilizada entre, pelo menos 1936-50) composto por dois círculos concêntricos sobrepujado por coroa e lateralmente envolvido por coroa de louros. No círculo interior uma Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia], envolvido no círculo exterior por «Massarellos – Roriz – Porto». Por baixo de todo o conjunto «Portugal». Leiteira e açucareiro apresentam ainda, inscrito na pasta, «R». O bule não tem qualquer marca para além das da trempe presentes em todas as peças
Data: c. 1936-40
Dimensões: Várias


Segundo José Queirós (Cerâmica portuguesa e outros estudos, da Editorial Presença, Lisboa, 2002, p.380) a fábrica foi fundada em 1738 por Manuel Duarte Silva, no lugar de Massarelos, na Rua da Restauração, perto do Cais das Pedras. Será a mais antiga fábrica de faianças do Norte de Portugal. Arrendada entre 1819 e 1845 a Rocha Soares, familiar do fundador, produziu louça utilitária, peças artísticas e azulejos lisos e relevados – que se tornaram uma das marcas identitárias da fisionomia urbana do Porto, e que são raros em Lisboa onde aparecem num edifício unifamiliar da Rua do Quelhas. 


De uma gestão familiar até ao início do século XX, a fábrica foi comprada a 2 de Maio de 1904 por uma sociedade, a Empresa Cerâmica Portuense, Lda, administrada por Archibald James Wall, que havia adquirido sede e novas instalações fabris na Quinta do Roriz, em Quebrantões do Norte, na freguesia do Bonfim, junto ao rio Douro, tendo como propósito a produção de tubos de grés e louça sanitária. O seu funcionamento só ficaria regularizado em 1906 com a atribuição da respectiva licença que permitia estabelecer no local uma fábrica de cerâmica, tendo a partir daí laborado em simultâneo com a filial da fábrica de louça em Massarelos.


Em 1912 C. J. Chambers, que havia entrado dois anos antes para a Empresa Cerâmica Portuense como empregado, adquiriu uma cota, ficando a firma a denominar-se Chambers & Wall.
 
Consumida por um incêndio na madrugada de 11 de Março de 1920, a unidade original de Massarelos passa para a Quinta do Roriz onde a firma Chambers & Wall assegurou a produção da louça da marca “Massarelos-Porto”. A louça da marca “Massarelos” continuou a ser produzida na unidade industrial de Quebrantões do Norte até 1980. Depois do encerramento da fábrica foram demolidos, para que se pudesse construir a ponte de São João, os edifícios de que restam apenas dois fornos “garrafa” e uma chaminé. 

 
A sociedade Chambers & Wall, por escritura lavrada no dia 3 de Junho de 1933, passou a designar-se Chambers & Wall, Lda., sociedade por quotas constituída pelos sócios Charles Archibald Wall, Richard Allan Wall e Leslie Dow Smart. Em 29 de Fevereiro de 1936 a fábrica de Roriz foi vendida à Companhia das Fábricas Lusitânia, SARL, com sede em Lisboa, constituída por escritura de 3 de Setembro de 1929, que por mais alguns anos daria continuidade à marca Massarelos. Entretanto a unidade industrial da Quinta de Roriz muda novamente de mãos pelo que de 1 de Julho de 1944 a 1952 se encontra arrendada à Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia (CFCL) e por escritura de 25 de Julho de 1944 passou a denominar-se Fábrica de Loiças «Massarelos», Lda.

A fábrica é vendida, em 29 de Dezembro de 1952, à firma Fábricas «Lufapo» de Faianças e Porcelanas, (S.A.R.L.) embora a laboração da Fábrica de Louças «Massarelos», Lda., continuasse a ser anunciada ao ano seguinte. Embora a «Massarelos» revelasse uma situação económica difícil a partir de meados da década de 50, realizaram-se avultados investimentos nos anos 70, e a «Lufapo» manteve esta sua filial no Porto até 16 de Abril de 1980, ano em que encerraria definitivamente por declarado estado de falência. 

A marcação das peças com o carimbo “MASSARELLOS / RORIZ – PORTO / CFCL / PORTUGAL” corresponde, sem sombra de dúvida, ao fabrico posterior a 1936 em que a fábrica apresenta cariz mais industrializado.


Na posse da CFCL a fábrica produzia para o mercado interno e para o estrangeiro, neste caso sobretudo os produtos em pasta de faiança, apresentando uma produção bastante variada onde, para além da louça de uso doméstico e decorativo, fabricava uma vasta gama de louça sanitária, pias para água benta, tinteiros para carteira, etc., com três séries (A, B e C) de qualidade de decoração e de preço, bem como com várias cores e dimensões, conforme as tabelas de preços para os anos de 1940 e 1943, editadas pela CFCL, referentes à produção da Fábrica “Massarelos”.


A decoração deste serviço de chá insere-se na Série B, «constituídas por desenhos cheios ou pulverizados, a mais de uma cor, por crómos pequenos e médios, e por bandas simples», conforme explica a tabela de preços de 1943. Trata-se de uma decoração geométrica, aplicada a estampilha e aerógrafo, perfeitamente germânica, dentro de espírito da República de Weimar, e na Alemanha, à data em que por cá foi feita, abolida como "arte degenerada". Também ao nível das formas poderemos encontrar a mesma filiação. Ambas muito próximas, aliás, do que se produzia em Sacavém. Embora a qualidade plástica seja muito apelativa, o mesmo não se poderá dizer da qualidade técnica que deixa muito a desejar.

Para saber mais sobre a fábrica de Louça de Massarelos consultar a dissertação de mestrado online de Armando O. P. Araújo. 

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