domingo, 13 de janeiro de 2013

Jarra “Lírios-do-vale” Gustavsberg - Suécia




Jarra de grés, em forma de taça oblonga e bocal côncavo, no sentido do comprimento, assente sobre pé troncocónico invertido sobre pequeno anel, da linha Argenta, com aplicação de prata em fundo esmaltado verde mate. Nas quatro faces, ornamentação, a prata embutida, com ramo florido de lírios-do-vale. No bordo e pé, filete de prata embutido. No fundo da base, estampado a ouro, a marca Gustavsberg, o símbolo «âncora», «Argenta», «Made in Sweden» e, pintado à mão, também a ouro, «A 23» e «Y».
Data: c. 1955
Dimensões: alt. 8,2 cm x diâm. 8,6 cm x 7,8 cm


Hoje regressamos à Suécia e à produção da Gustavsberg. Trata-se de uma peça que foge um pouco ao nosso critério cronológico e estético preferencial, mas que adquirimos porque achámos interessante a evolução e decadência de uma linha que chegava ao fim. Nela se nota o esgotamento da linha Argenta criada por um dos nossos designers de eleição, Wilhelm Kåge, ainda nos anos 20, e cujo apogeu se centra, sobretudo, nas produções do seu criador entre c. 1930 e c. 1945. Porém, esta peça tardia apresentava outras características que nos agradaram. Em primeiro lugar, pela singularidade da forma, integrada no espírito das freeforms, então em voga, que os escandinavos vão explorar como ninguém. Por outro lado, pela singeleza da decoração, com a representação, em cada uma das quatro faces, da haste florida de um lírio-do-vale graficamente representada.

A peça apresenta uma delicada forma em pequena taça, mais que propriamente de jarra que efectivamente é, para receber um pequeno bouquet de flores, que, em Maio, seriam, naturalmente, lírios-do-vale. A jarra torna-se, assim, símbolo permanente de um desejo de bons augúrios como passaremos a explicar.


Celebração e renovação da Primavera, o lírio-do-vale (em francês muguet) simboliza o regresso à felicidade depois de passado o Inverno. Pelo que estas pequenas flores brancas em forma de campainhas, em França, Bélgica e Suíça, por exemplo, são tradicionalmente oferecidas aos familiares e amigos no dia 1 de Maio para lhes trazer felicidade. Assim sendo, converteu-se na flor oficial do dia do trabalhador.
Muito representada durante a Belle Époque, acabaria por conhecer um novo élan nos anos 50.

Enquanto símbolo de regresso à felicidade e de boa sorte, foi a flor preferida de Christian Dior, que era muito supersticioso. O muguet foi utilizado pelo criador de moda, como motivo de inspiração das suas célebres criações na collecção Primavera-Verão de 1954. Dois anos mais tarde, haveria de lançar um perfume à base de muguet que se tornaria icónico: Diorissimo. Tão supersticioso era que escondia esta flor nas bainhas dos modelos em dias de desfile inaugural das suas colecções. 
Por uma coincidência cronológica, ou não, dado que as tendências da moda contaminam as várias produções artísticas, seria também o muguet utilizado como motivo decorativo em várias peças dos anos 50 da série Argenta, de que esta pequena jarra é apenas um exemplo elegante e singelo, como a própria flor. (Veja-se exemplar com outra decoração aqui).


Espécie nativa da Europa, da família das convalariáceas, o lírio-do-vale (Convallaria majalis) é cultivada como flor ornamental que floresce em Maio. As hastes florais chegam a atingir 30 cm e as flores são muito odoríferas. Também é conhecido popularmente por campainhas, flor-de-maio, círio ou lágrimas-de-Nossa-Senhora (já que segundo a tradição cristã simboliza as lágrimas da Virgem Maria), e ainda por lírio-convale, convalária, ou, por influência francesa, mugué, muguet, muguete e muguete-do-vale. 

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