terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Jarra «ovo» art déco D. 5405 - Longwy


Jarra art déco de faiança moldada, de forma ovóide assente sobre três pés em bala, totalmente craquelé, esmaltada com decoração floral estilizada. Sobre o bojo de fundo azul-egípcio, espalham-se grandes flores espiraladas a dois tons de rosa, com folhas rosa velho debruadas a ouro, segundo a técnica do “relevo contornado” ou corda seca. Pés e colo a ouro. No fundo da base, carimbo preto com as armas do Barão de Huart: escudo com ramo de azevinho, coroado, envolto por listel ou filactera com a legendaÉmaux de [Longwy]” sobre “France” e sobrepujado por “Décoré à la [main]”. Carimbo rectangular, também a preto, onde, à esquerda, se lê “F. 3057” (forma), "D.5405" (decor) e “C.” e à direita “16" e, no alinhamento do “C” anterior, “414”.
Data: c. 1925
Dimensões: Alt. 18,5 cm


Mais um exemplar de jarra da Faïencerie de Longwy com os seus célebres esmaltes e a sua excepcional qualidade técnica. Joie de vivre uma vez mais.

Quando vimos esta versão cujo modelo já possuíamos, mas com a decoração D.5202, e que postámos a 21 de Setembro de 2012, pairava no ar a voz de Louis Armstrong com o seu célebre What a Wonderful World. De facto, nestas flores sobre um céu azul ecoava o tema da canção, e o mundo ainda parecia maravilhoso.


Os anos foram passando, e agora, neste 2013 que finda, sim! demos por nós a pensar, que vivemos num mundo cada vez menos wonderful onde se perdem direitos todos os dias, se aprofundam clivagens e a sociedade é cada vez menos solidária.


Uma vez mais, escolhemos para finalizar o ano, uma decoração cujas flores explodem, qual fogo-de-artifício, no azul optimista de um céu sem núvens. Foi concebida no curto tempo de euforia entre duas catástrofes. Esperemos que 2014 encerre positivamente o parêntesis dos últimos anos e a esperança e o optimismo regressem de uma forma mais adulta para que os mesmos erros não voltem a ser cometidos. 



domingo, 29 de dezembro de 2013

Jarra art déco azul ondeada Boch Fréres La Louvière - Bélgica

 

Jarra de faiança moldada, craquelé, de cor monocroma azul-egípcio. O bojo, tendencialmente cilíndrico com caneluras, é cintado por três faixas horizontais tripartidas, ondeantes e relevadas. Assenta sobre pé troncocónico e é simetricamente rematado por colo de igual forma. Bocal e interior do colo da mesma cor do exterior. No fundo da base carimbo preto circular, sobre ramo de loureiro (?) com Boch FES La Louvière enquadrado por Made in Belgium – Fabrication Belge. Inscrito na pasta, realçado a azul, 1288.
Data: c.1935
Dimensões: Alt. c. 22m


Esta peça belga, da Manufactura Boch Fréres Keramis, em La Louvière, do período em quem Charles Catteau era seu director artístico, apresenta uma forma (nº 1288) que terá sido criada por volta de 1929. Todavia, a cor azul monocroma será de c. 1934. Tal como a peça da Aleluia-Aveiro que postámos anteriormente, remete também para uma lanterna oriental de papel de arroz.




domingo, 15 de dezembro de 2013

Jarra anos 50 com incisões – Aleluia-Aveiro


Jarra de faiança moldada composta pela justaposição de formas geométricas. O bojo ovaloide alongado, de cor verde-água pálido, é cortado por incisões verticais realçadas a preto, conferindo à superfície uma aparência gomada. Assenta em pé troncocónico verde. Um colo cilíndrico, da cor do pé, é rematado por bocal a verde-água, com interior a preto. No fundo da base, carimbos a preto «Aleluia Aveiro», sobrepujando «Fabricado Portugal» inscrito num rectângulo. Pintado à mão, igualmente a preto, 706-A.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. c. 19,6 cm x larg.c. 10 cm


Trata-se do modelo nº 706 e da decoração A, ou seja, a primeira de uma série. A peça, da década de 50, da produção da fábrica de cerâmica Aleluia - Aveiro, explora propostas próximas de modelos da Bauhaus. As formas de sólidos geométricos são, neste caso, realçadas pelos fortes contrastes cromáticos entre os dois tons de verde e pela incisão gráfica pintada a preto.

O grafismo vertical, ao alargar a meio do bojo, cria um efeito visual dinâmico que encontramos em muitas das decorações alemãs da República de Weimar, sobretudo aerografadas, que aqui se integra já numa estética próxima da Op Art. Assim, paradoxalmente, a forma estática da jarra cristaliza o movimento da decoração petrificando-o numa rotação hipnótica.

Por outro lado, ecoa a lembrança oriental, no classicismo da forma, ao remeter para uma reinterpretação das lanternas de papel de arroz.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Cache-pot art déco «Pergola» – K & G – Lunéville - França


Cache-pot art-déco de faiança moldada de cor branca com decoração policroma estampilhada e aerografada de flores estilizadas. No fundo da base carimbo verde K&G - Lunéville- France sobrepujado por cartela curva com «Pergola». Inscritos na pasta «453» e «4P» seguido de um hexágono (?).
Data: c. 1923-30
Dimensões: alt. 21 cm x Ø c.28 cm
 

Trata-se de mais um cache-pot da antiga fábrica Keller et Guérin, de Lunéville, com decoração atribuída a Géo Condé, motivo «Pergola». Tal como o cache-pot decorado com borboletas anteriormente postado desta unidade fabril também esta estampilha foi utilizada em guarnição de chaminé (jardineira ladeada por par de jarras). Haveremos de mostrar alguns exemplos destas últimas peças.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tigre com presa art déco - Sacavém



Quando em 10 de Setembro de 2012 postámos uma série de esculturas animalistas demos nota também sobre este modelo concebido pelo escultor inglês John R. Skeaping (1901-1980) e dos diversos animais, desenhados em 1926, que propôs à fábrica de Wedgwood, cuja imagem do catálogo aqui apresentamos. A figura de cerâmica era originalmente complementada por soco de madeira, característica, aliás, comum a outras peças do período art déco, casos de jarras, caixas, etc, que assim ganhavam maior destaque ou outra dignidade. Tais bases suplementares tanto podiam ser de desenho contemporâneo, de linhas rectílineas, como é o caso, como ser peanhas chinesas.


Trata-se de um tigre com presa, escultura do bestiário de Skeaping, (intitulada «Tiger and buck») produzida pela Fábrica de Loiça de Sacavém. Peça de faiança moldada, ao gosto art déco, esmaltada a cor marfim amarelado, craquelé. O animal, em movimento sobre um soco paralelepipédico, arrasta com a boca a carcaça de um bode. No fundo da base, carimbo azul, «Gilman & Ctª – Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal». Inscrito na pasta 52C.
Data: c. 1930-35
Dimensões: Comp. 34,3 cm x 9,4 cm


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Jarra art déco poligonal - Rambervillers Cythère - França


Jarra de grés tendencialmente esférica, cuja superfície é multifacetada por uma quadrícula de linhas verticais e longitudinais, rematada por bocal estreito saliente em anel. O esmalte azul brilhante apresenta escorrências amareladas e irisadas de aspecto metalizado (que as fotos não mostram). No fundo da base, inscritos na pasta, carimbos Cythère - Rambervillers e, em cartela oval, Unis France.
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 18 cm x Ø 21 cm
No inventário de 1931, posto em catálogo no mesmo ano, mostra-nos que se trata do modelo 649, referenciado na página 3, com uma altura de 215 mm.


Em 1885 Édouard Jacquot funda a Société Anonyme des Produits Céramiques de Jeanménil Rambervillers que entra em laboração dois anos depois. A fábrica produz então canalizações em grés e outros produtos de saneamento e higiene públicos. Em 1891 a empresa, sob outra direcção, passa a denominar-se Société Anonyme des Produits Céramiques de Rambervillers (SAPCR). Os fornos são modernizados e ampliados e, no ano seguinte, Alphonse Cythère (1861-1941) é nomeado director. Este tenta diversificar a produção dentro da mesma linha de especialização da fábrica.


Ao visitar a Exposição Universal de Paris de 1900 vai descobrir os greses artísticos e decorativos produzidos pela concorrência. O reencontro com o seu amigo Joseph Mougin dá-lhe novas ideias e, de regresso a Rambervillers, faz experiências com esmaltes a partir da matéria-prima utilizada na empresa. As tentativas só são coroadas de êxito em 1903 e, nesse mesmo ano, a SAPCR apresenta com grande sucesso as suas peças numa exposição artística em Nancy. A produção vai ser vendida em Paris através da casa Majorelle que também fornece alguns modelos. A partir de 1909 as vendas registam um grande aumento. Os seus modelos são caracterizados durante todo este período pela sinuosa gramática Art Nouveau franco-belga.

Entre 1914-18 a empresa limita-se ao fabrico de tubos de grés para canalização dadas as necessidades sentidas durante o período e a maioria dos operários ter sido mobilizada para a frente de combate. 


Só em 1920 recomeça a produção de greses artísticos devido à falta de pessoal qualificado. Entre 1925-31 Cythère aperfeiçoa o esmalte azul de reflexos metálicos à base de óxido de cobalto, que vai levar a um aumento das vendas. As exportações para os EUA, Japão e outros países são um sucesso, com peças de linhas renovadas onde se destacam as de estilo Art Déco como a jarra ilustrada. Neste período entre 1920 e 1931 a Société de Rambervillers integra a Unis France. Trata-se de uma marca de protecção que significa Union Nationale Inter-Syndicale (UNIS) instaurada em 1916 pelos industriais franceses durante a guerra. Tinha como fim reagrupar os meios de produção franceses e, sobretudo, de protecção face a contrafações incentivando o cliente a comprar francês.

A crise de 1929 tem efeitos devastadores em França a partir de 1932, e a fábrica entra em decadência. A situação agrava-se em 1939 com a mobilização dos quadros da sociedade e de grande parte do pessoal. O bombardeamento das instalações em 1940 precede a morte de Alphonse no ano seguinte, em Junho. A fábrica retoma lentamente a produção a partir de 1946 dirigida pelo filho André. Este demite-se em 1949. A SAPCR acaba por encerrar em 1972. 


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Prato de cozinha art déco - Lufapo – Massarelos


Prato de cozinha, de faiança moldada de formato circular com aba larga e lisa. Decoração central, no covo, policroma, a azul, verde e ocre, estampilhada e aerografada em esfumado, estilizada dentro da gramática art déco, com motivo de galo cantando à alvorada. Bordo aerografado a verde esfumado. No fundo da base, carimbo preto Lufapo – Massarelos - Portugal.
Data: c. 1955
Dimensões: Ø 40 cm


A mesma temática com galo e técnicas de decoração do prato Lunéville apresentado anteriormente, embora neste, de grandes dimensões, as cores nos apareçam em esfumado, mais na tradição alemã, que com cores planas bem definidas como na produção francesa.


Prato tardio dentro da produção art déco nacional, embora utilizando uma estampilha que será, muito provavelmente, dos anos 30, aqui aplicada fora do contexto estético que lhe deu origem.
Integrada na Lufapo em 1952, a Massarelos encerrou em 1980 como já escrevemos.