quarta-feira, 18 de julho de 2012

Açucareiro art déco modernista de Schramberg


Açucareiro, de faiança moldada, de forma esférica com decoração geométrica estampilhada em tons de azul-escuro, sobre fundo azul-claro esponjado, apresenta linhas art déco modernistas filiadas na Bauhaus. A tampa, composta por dois semi-círculos desnivelados é atravessada por pega semi-circular composta por três semi-círculos relevados e concêntricos. Bordos da taça e da tampa esponjados a azul-escuro. Na base, carimbo preto com SMF inscrito em escudo sobrepujando Schramberg, e Dec: 548. Inscrito na pasta 3844
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 12 cm x diâm. 11 cm


A compra deste açucareiro, atribuído a Eva Stricker Zeisel, deveu-se apenas a possuirmos as chávenas de Sacavém anteriormente postadas e atraiu-nos mais que os pires aí ilustrados. E se a sua forma mais vanguardista pouco tem a ver com a do formato Aldeia, é interessante possuir a decoração original e a sua versão portuguesa. Se ao nível da forma a peça alemã é mais harmoniosa, pelo rigor geométrico, ao nível da decoração a versão aerografada da FLS agrada-nos mais que a estampilhada manualmente.

Com origens que remontam a 1820, a fábrica de Schramberg teve vários nomes e proprietários, chegando, em 1883, a integrar, como subsidiária, a Villeroy e Boch em Mettlach. Em 1912 foi vendida aos irmãos Moritz e Leopold Meyer, de origem judaica, passando a marca a ostentar a sigla SMF (Schramberger Majolika-Fabrik), passando a companhia limitada em 1918.

Nos anos 20  a empresa vai apostar na inovação artística contratando artistas de renome. Esta renovação ganha mais fôlego no final da década com participantes da Bauhaus e também acentuando uma vertente mais Art Déco.

Por força das perseguições nazis a família Meyer, em 1938, emigrou para o Reino Unido. Em 1949, Peter Meyer, filho de Moritz, nascido em 1922, voltou com sua família para Schramberg retomando a propriedade e direcção da fábrica com sucesso.


A húngara Eva Zeisel (nascida Eva Amalia Striker, em Budapeste, em1906) foi uma dessas artistas. Contratada em 1928 para desenhar loiça utilitária, concebeu modelos e decorações que fizeram época, especialmente popularizando motivos influenciados por Mondrian.

Tendo estudado pintura em Budapeste acabou por ser atraída pela cerâmica tradicional húngara, tornando-se ceramista. A sua visita, em 1925, à Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris, pô-la em contacto com os trabalhos de Le Corbusier e os movimentos modernos, caso da Bauhaus.

A entrada em Schramberg transformou-a de ceramista de estúdio em designer industrial.

Em 1935 encontra-se a trabalhar em Moscovo como directora artística da indústria de porcelana e vidro da República Russa. Presa em 1936 por acusação de conspiração contra Estaline, passou 16 meses na prisão, sendo libertada em 1937 sem qualquer explicação. Parte para Viena de onde foge em 1938 aquando da entrada dos nazis na Áustria. Refugiada na Inglaterra, haveria de casar com Hans Zeisel, que conhecia de Berlim, com quem emigrará para os Estados Unidos nesse mesmo ano, país onde terá uma longa e profícua carreira de sucesso que lhe granjeou fama internacional. Morreu em Nova Iorque a 30 de Dezembro de 2011.

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