quarta-feira, 30 de maio de 2012

Jarra art déco de cor azul-egípcio, Dage - França


Jarra bulbiforme de faiança moldada coberta por um espesso esmalte azul egípcio mate e poroso finamente craquelé, que escorreu livremente pela superfície da peça e se acumulou irregularmente na base sublinhando a ideia de espessura. O bocal, a esmalte preto igualmente mate com um toque metálico, funciona como contraponto e realça a superfície azul da peça, muito ao gosto art déco da época. São visíveis, no bocal, as marcas da trempe. Na base, pintado à mão a preto a assinatura do autor: DAGE
Data: c.1925
Dimensões: alt. 15 cm


Louis-Auguste Dage (1873 – 1963), prolífero ceramista parisiense, nasceu em Antony. O seu trabalho mereceu o reconhecimento nacional tendo recebido o título de “meilleur ouvrier de France” em 1924.

A sua mestria técnica levou outros ceramistas a quererem trabalhar com ele, como, por exemplo, o conhecido escultor animalista Jean de la Fontinelle que com ele colaborou na década de1920. Data desta década e da seguinte a sua produção mais importante.

As peças, maioritariamente cobertas por esmaltes espessos, adornam-se frequentemente com pinturas vegetalistas pintadas de forma muito livre o que lhes confere, assaz vezes, uma inusitada modernidade, como haveremos de ilustrar.

Não é o caso da jarra que hoje apresentamos, que cremos pouco vulgar na obra do ceramista e cuja modernidade é devida sobretudo à mestria técnica da pasta vítrea que a reveste. Forma, cor e textura fazem-nos recuar até ao Egipto antigo, muito em voga à época, sobretudo depois da descoberta do túmulo de Tutankhamon, em 1922. Cor e textura também nos remetem, de certa maneira, para alguns trabalhos de Raoul Lachenal.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Cache-pot art déco “Fetos e flores” Aleluia - Aveiro



Cache-pot de faiança moldada, craquelé, com decoração estampilhada e apontamentos à mão livre. Todo o bojo é cingido por uma sequência fitomórfica estilizada dentro da gramática art déco, a preto e diferentes tons de castanho, sobre fundo creme, com representação de rebentos de fetos misturados com folhagem miúda intercalando, ao centro, com flores. Bordo listado a preto. Na base, pintado à mão, a preto, A e Aleluia Aveiro. Inscrito na pasta 70.
Aparece ilustrado na pág. 4 do Catálogo de loiças decorativas das Fábricas Aleluia, já citado, referenciado com o Nº 70 – A
Data: c. 1935-45
Dimensões: alt. 12 cm x larg. 16 cm



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Jarra art déco “elefantes e palmeiras” da Villeroy und Boch – Mettlach


Jarra bojuda art déco, de faiança moldada, craquelé, com aplicação sobre o vidrado de pintura à mão, policroma, com motivo intercalado de quatro elefantes e igual número de palmeiras estilizados. Na base, carimbo Villeroy & Boch- Mettlach e Made in Saar. Inscrito na pasta, um número ilegível.
Data: c. 1931-35
Dimensões: Alt. 22,5 cm x diâm. máx. c. 21 cm

A pintura, expressionista, revela uma grande liberdade de pincelada, predominando os tons terrosos e cinzas que fazem ressaltar o verde da vegetação.


Trata-se de um outro exemplo de exotismo cuja temática, mais uma vez, nos remeterá para a Exposição Colonial de Paris de 1931. Neste caso, uma jarra fabricada pela V&B, cuja história já aqui focámos, que, em consequência da 1ª Guerra Mundial, se encontrava em território administrado pela França e pelo Reino Unido entre 1920 e 1935, data em que, por plebiscito, a Bacia do Sarre foi devolvida à Alemanha.


domingo, 27 de maio de 2012

Jarra art déco da linha Flambé “Gazelas” da Rörstrand – Suécia


Jarra de grés moldado, de forma esférica com pé e gargalo saliente. Bojo com decoração aerografada, alternando dois pares distintos de gazelas a correr com palmeiras inclinadas, na parte superior, e parte inferior listada, em castanhos com realces a ouro no contorno do desenho, pé e bocal, dando à peça um aspecto metalizado como se fosse dinanderie. Na base, carimbo a ouro: FLAMBÉ ALP LIDKÖPING SWEDEN DEKOR W BORG; UNIK: 1227. M. Três estrelas relevadas na pasta.
Data: c. 1932-35

Dimensões: alt. 19 cm x larg. 20 cm



Mais uma peça exemplar da swedish graceda linha Flambé criada para a Rörstrand por Gunnar Nylund (1904-1997), de que aqui já tivemos oportunidade de falar, a propósito de uma outra jarra da mesma linha. Também esta forma é da sua autoria, e recebeu decoração, muito ao gosto francês, de W. Borg, com temas recorrentes na Art Déco: o exotismo e os antílopes ou gazelas saltando. Esta peça inserir-se-á em toda uma produção internacional influenciada pela Exposição Colonial de Paris de 1931.


Mostramos o mesmo modelo com outra decoração, em que ao flambé de pé e gargalo,
se junta um bojo craquelé, que, para grande desgosto nosso, não conseguimos adquirir.

Passarinho art déco, Vista Alegre - Portugal



Figura de passarinho tufado, debicando, de porcelana moldada, numa estilização de influência cubista ao gosto geométrico art déco, de cor amarela, aerografada, com apontamentos a preto à mão, sendo, nas asasa, estampilhados. Na base carimbo verde V. A. Portugal (Marca 31: 1924-1947)
Data: 1932
Dimensões: alt. 8 cm x comp. 6,5 cm x larg. 5,5 cm




Segundo o verbete, não numerado, publicado no catálogo do IX Leilão Vista Alegre, em 2009, página 112, que aqui reproduzimos, trata-se do desenho P. 1303, criação de 1932, sem nomeação de autoria.



Jarra de asas helicoidais art déco modernista, Carstens-Uffrecht - Alemanha


Jarra de forma tendencialmente globular com asas helicoidais, de grés moldado, com decoração estampilhada e aerografada em diferentes tons de castanho e apontamentos a azul. A decoração, modernista, nos dois lados, representa uma paisagem sinuosa, na diagonal, com poste telefónico na diagonal oposta, de clara influência kandinskyana (ondeados e traços a castanho e pequenas manchas a azul). Marcado na base com carimbo “Germany”, a preto, e 212b. (nº de forma) em relevo na pasta.
Data: c. 1930
Dimensões: alt 12,5 cm x diam. 19 cm (com asas)

Trata-se da forma 212b, uma criação atribuída a Grete Weiss, com a decoração nº 259, produzida pela fábrica alemã Carstens-Uffrecht. É nossa opinião ser esta peça uma obra-prima da vertente modernista do Art Déco, de nítida filiação na Bauhaus.




As referências kandinskianas da decoração são por demais evidentes. Aliás, Kandinsky, tal como outros grandes pintores, colaborou anonimamente na criação de decorações para cerâmica industrial, utilitária e decorativa, durante a República de Weimar, tal como fez para fábricas de porcelana soviéticas do período revolucionário nos anos 20, de que apresentamos fotografia de chávena e pires de café. Neste exemplo, ondulação na diagonal com poste telefónico e barco.

A fábrica Carstens, C. & E., arrancou por volta de 1900, em Reichenbach, na Turíngia, como manufactura de porcelana, sendo propriedade dos irmãos Christian e Ernst Carstens. A sua actividade expandiu-se com fábricas em Rheinsberg, Hirschau, Georgenthal, Uffrecht, Sorau, Neuhaldsleben e Gräfenroda. Várias destas unidades criaram linhas e decorações exclusivas feitas a aerógrafo, de que teremos oportunidade de mostrar alguns exemplares.

sábado, 26 de maio de 2012

Jarra art déco de Géo Condé, Saint-Clément - França

Ficámos encantados com o post de CMP sobre as jarras art déco da Empresa Electro-Cerâmica/Candal, que acabou por pesar na escolha da peça que hoje apresentamos.


Jarra art déco de faiança moldada, em forma de bolota, vidrada a preto flambé, com decoração incisa de folhagem e flores estilizadas na metade superior. Vidrado interior cor cinza-celadon. Na base, em relevo, StC – FRANCE S40 BIS GRAVÉ
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 20 cm





Trata-se de um modelo criado por Géo Condé, artista sobre o qual já escrevemos, para a fábrica Saint-Clément, onde foi produzida em faiança, e para a Mougin-Nancy, que a produziu em grés (ver foto retirada da net)


De facto, as jarras de CMP lembraram-nos, imediatamente esta peça. Tanto mais que estivemos para adquirir a versão colorida. O negócio não se concretizou por motivos que desconhecemos, dado a peça ter estado reservada para nós, por intermédio de um amigo, e cujas fotografias, enviadas pelo vendedor, aqui reproduzimos.


Tínhamos especial interesse na jarra EC-Candal porque ao possuirmos o referente francês (infelizmente apenas na versão “pobre” de faiança) que lhe serviu de inspiração, era pertinente ter também a sua tradução portuguesa. É que as flores, de raiz popular, são, quanto a nós, inspiradas nas criadas por Géo Condé para a peça que hoje publicamos.


Tal como as peças e as fábricas “dialogam” entre si, também nós, como vem sendo nosso hábito, gostamos de dialogar com os demais blogues que versam estas temáticas. Quem lucra é o conhecimento que se vai adquirindo da cerâmica feita em Portugal e do contexto internacional em que se situa, objectivo central do nosso blogue.

Desta vez, não estamos de acordo com CMP acerca de uma possível influência inglesa. Na verdade, pensamos que quer os modelos quer as decorações de Clarice Cliff se opõem, quer quanto ao espírito quer quanto à forma, às criações do artista francês. Todavia, concordamos em absoluto que é o tipo de decoração que se encontra em muito do mobiliário da época, e que, sobretudo em Portugal, teve um enorme e longo sucesso popular.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Pote art déco com pássaros de Fritz Klee – Hutschenreuther - Alemanha



Pote de porcelana moldada branca, com decoração a ouro, concebida pelo Prof. Fritz Klee numa gramática já Art Déco. No bojo, faixa com composição gráfica de folhagem a ouro sobre a qual se destacam quatro pássaros de espécies distintas. Tampa com pega em forma de pássaro. Carimbo estampado na base, a verde, Entwurf Professor Fritz Klee Direktor der Fachschule Selb, seguido de outro carimbo a verde com “LHS”, sob leão, seguido de novo carimbo a verde comLorenz Hutschenreuther A.G. Selb Abteilung für Kunst” (marca de 1919-1928). Modelo nº 46.
Data: c. 1927
Dimensões: alt. 29 cm x diam. base 8,5 cm

A estatuária animalista e o desenho quase científico das peças figurativas concebidas por este mestre fizeram escola. No caso da presente peça, referenciado na página 16 do catálogo da fábrica, de 1927, como modelo nº 046/1, apesar da simplificação de formas, os passeriformes, de perfil e delineados de forma rigorosa, são facilmente identificáveis enquanto espécies diferentes.


Nascido em Würzburg, Alemanha, o professor Fritz Klee, (1876-1976) é considerado como um dos pioneiros da produção moderna de porcelana. Estudou arquitectura na Universidade Técnica de Munique, em cuja câmara haveria de trabalhar entre 1904 e 1908.

Antes, na viragem do século, havia feito cartazes e ilustrações para livros, e nos tempos livres ia desenhando objectos decorativos para grés, porcelana e prata, assim como vitrais e mosaicos.

Em 1908 participa na exposição artes e ofícios de Munique, ano em que foi nomeado fundador e director da Real Escola de Porcelana Industrial da Baviera, em Selb, cuja abertura oficial se deu em 1 de Abril do ano seguinte. Pelo seu excelente trabalho seria nomeado, em 1911, Real Professor pelo governo da Baviera.

Fritz Klee projectou o pavilhão alemão da Exposição Mundial de Bruxelas de 1910.

Em 1912 tornou-se membro da Werkbund alemã, ano em que também desenhou o pavilhão da Rosenthal para a Bayerischen Gewerbeschau, de Munique.

Em 1914, dadas as instalações da escola serem acanhadas, a Câmara Municipal decidiu aumentá-las, após discussões prévias com o Departamento de Estado. Contudo, a Grande Guerra impediu a concretização imediata das obras que só se iniciariam em 1919, segundo projecto de Fritz Klee inaugurado em 1921.

A escola formava profissionais criativos, com competências práticas e técnicas capazes de satisfazer a indústria local de porcelana, tanto utilitária como decorativa, com novas formas e desenhos desenvolvidos sob a estrita supervisão de Klee. Professor rigoroso e autoritário, de grande carisma, impôs novos pontos de vista profissionais e artísticos.

Várias fábricas de porcelana, caso da Hutschenreuther, Zeh Scherzer & Co., Paul Müller, Heinrich & Co. etc. produziram muitos objectos concebidos por este artista e seus alunos. Modelos considerados de bom gosto, com alma, de fabrico tecnicamente viável e vendáveis. Aliás, foi dele a ideia e concepção, em 1919, do leão da marca da Hutschenreuther.

As crescentes dificuldades com os nazis levam-no a abandonar a escola em 1939, ano em que se reforma e se instala em Estugarda onde morre em 1976, com 100 anos de idade.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

Cercadura (friso) de azulejos Arte Nova “Tulipas” - Sacavém

A propósito da exposição «A Arte Nova nos Azulejos em Portugal: Colecção de Feliciano David e Graciete Rodrigues», a inaugurar amanhã no Museu da Fábrica de Loiça de Sacavém, pelas 19 horas, e em jeito de divulgação e de homenagem aos coleccionadores, apresentamos um conjunto azulejar dentro desse estilo. A exposição estará patente ao público até 31 de Janeiro de 2013.


Trata-se de parte de cercadura ou friso de painel ornamental de azulejos de pó de pedra (5x1), com composição floral de tulipas de gramática Arte Nova. O motivo foi previamente estampado a castanho, sobre fundo branco, e depois com acabamento final pintado à mão policromo (verde, amarelo e encarnado), aplicado nas flores. Base estriada, sem marca.
Data: c. 1910
Dimensões: 15 cm x 15 cm (cada azulejo)

Este modelo, sobretudo na sua versão estampada monocromática a verde (veja-se a fotografia tirada numa entrada de prédio lisboeta), é, por enquanto, relativamente comum, quer como cercadura em fachadas e átrios quer como friso em entablamentos.


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Candeeiro Bola art déco – Vista Alegre


Base de candeeiro de porcelana moldada, de forma esférica, com padronagem de fundo estampilhada e aerografada cor-de-rosa velho, formando flores e folhas geometrizadas dentro da gramática art déco, onde se inserem quatro medalhões circulares, policromos, com composições florais pintadas à mão, aplicadas no sentido dos ponteiros do relógio. Assenta sobre pé curvo ligeiramente saliente e tem gargalo cilíndrico, ambos rosa-velho com pintura a preto, à mão, simulando marmoreados. Tampão metálico cromado de origem. Na base, carimbo verde V.A. Portugal (Marca 31: 1924-1947), e, inscrito na pasta, talvez, 457.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 18, 5 cm




Talvez seja uma obra de Ângelo Chuva, visto ter decorado, ao gosto francês, como é o caso da presente peça, candeeiros deste modelo chamado, apropriadamente «Candeeiro Bola».


O que está inscrito na pasta, na base, parece-nos ser a sequência de números: 457 . Deixamos aqui amostra do negativo, na esperança de que algum leitor nos elucide, caso seja outra coisa.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pequena jarra art déco, Aleluia – Aveiro



Jarra de faiança moldada e relevada, em forma de balaústre, de cor celadon muito claro (amarelado), com decoração de quatro listas relevadas, a ouro, em dois conjuntos desencontrados que circundam a parte superior do bojo. Bocal e pé realçados também a ouro. Na base, carimbo a ouro Aleluia – Aveiro, Fabricado Portugal. X.250 BF pintado à mão a preto.
Data: c. 1940 - 50
Dimensões: alt. 15 cm


A linguagem dentro da vertente modernista da Art Déco tardia que encontramos nesta peça fabricada em Portugal, é comum na produção de massa que vulgarizou o estilo nos anos 30-40 quer na Alemanha quer em França. Se neste país encontramos objectos similares em fábricas de Lunéville, por exemplo, na Alemanha encontrámos, estamos em crer, o modelo que lhe terá dado origem.

Trata-se de uma jarra art déco produzida pela Goebel, com marca de fábrica de 1935-49, com 16,5 cm de altura, como se pode ver nas imagens retiradas da net.
É de referir que os modelos da Goebel, tanto de faiança, o caso desta, como de porcelana, tiveram muito sucesso em Portugal onde foram copiados por várias fábricas, como teremos oportunidade de mostrar. Em geral, modelos de gosto fácil, diríamos mesmo, domesticado, cujo sucesso foi mundial.