sábado, 24 de março de 2012

Caixa art déco de Karl Tutter - Alemanha




Caixa de porcelana moldada e relevada, talvez um guarda-jóias, cor-de-rosa pastel com filetes a ouro contornando as saliências horizontais da taça e tampa assim como os rebordos das mesmas. A caixa foi concebida numa reinterpretação neo-rococó de concheados geometrizados dentro de uma estética art déco. Pega vegetalista (?) estilizada a ouro e taça assente sobre quatro pés ondulados igualmente realçados a ouro. Na base, carimbo verde da fábrica com leão sobre L.H.S. inscritos numa oval, rodeados por Hutschenreuther' e 'Selb Bavaria'. Por baixo,‘Abteilung für Kunst’ e, por cima, inscrito na pasta K. TUTTER.
Data: c. 1927 (carimbo 1920-1938)
Dimensões: 12 cm x 9 cm

 Segunda peça de Karl Tutter, sobre quem já aqui falámos, a 15 de Novembro do ano passado, será das mais eloquentes relativamente à sua vertente neo-rococó.



A voga neo-rococó na Art Déco alemã filia-se directamente nas gravuras de Jean-Baptiste Pillement (1728 - 1808), pintor e decorador francês, muito em popular na Europa do seu tempo, chegando mesmo a residir em Portugal onde deixou obra feita. Nela difundiu o gosto pela chinoiserie segundo a interpretação francesa rococó, termo que permanece nas línguas europeias. As suas ilustrações, desenhos e pinturas, fantasiosas combinações orientalistas de pássaros, flores e outros elementos da fauna e da flora onde evoluíam figuras humanas, amplamente divulgados em gravuras, inspiraram artistas, sobretudo nas artes decorativas. O período do primeiro Pós-Guerra vai recuperá-las, principalmente na Alemanha, agora revistas por uma sensibilidade moderna. Tal estética vai ter repercussões na arquitectura, decoração de interiores, cerâmica, tecidos, papéis de parede, etc..

Na caixa de Tutter, que aparece na página 30 do catálogo da fábrica, de 1927,  referenciada sob o número 0829/2, a porcelana foi trabalhada como talha, embora a geometrização das suas componentes tenha criado uma sucessão de dezasseis panos quebrados, regulares e simétricos, que convergem ora em direcção da pega, único elemento assimétrico do conjunto, ora em direcção à base suportada por quatro pés recortados. A tampa em si mesma, remete para um chapéu de chinês, revisto por Pillement, ao qual não falta sequer o penacho.
Apesar da sua pequena dimensão, é um objecto que, para além de refinado, alia a graça à monumentalidade, características, aliás, que são atributos do Rococó.

Mais uma vez focamos o aspecto, tão interessante nos objectos colecionáveis, que é a sua circulação. Esta caixinha criada na Alemanha e intacta na sua fragilidade foi parar a Tel Aviv. Por ironia? Por destino trágico? Neste momento mora em Lisboa. Definitivamente?


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