quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Jarra solitário art déco - Vista Alegre



Jarra de porcelana moldada bulbiforme de gargalo longo e estreito, aerografada e pintada à mão. No bojo, que assenta sobre anel a ouro, decoração vegetalista, grisaille com realces a preto e a ouro em fundo, sobre o qual se destacam seis medalhões amarelados e cinza, alternados em grupos de três a dois níveis, com inflorescências cor-de-tijolo ao centro, cercadas por um fino e sinuoso filamento relevado, cor de marfim, recortado por pequenos apontamentos a preto, tudo numa estilização dentro da gramática art déco. Na transição para o gargalo, o colo, amarelo claro, ostenta um perolado preto e uma sequência de três anéis cor-de-tijolo. Pendendo do bocal com filete a ouro, sobre o gargalo branco, escorrências cor-de-tijolo que remetem para o período anterior. Na base, carimbo verde V.A. Portugal (marca 31) e, inscrito na pasta, à mão, 3-5.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 21,5 cm



Pelas semelhanças decorativas com outras peças, nomeadamente a jarra nº 1223 do Inventário do Museu da Vista Alegre, que aqui reproduzimos, erradamente identificada como Arte Nova, sendo de facto Art Déco, no livro Mestres Pintores da Vista Alegre (2005), caso a atribuição feita pelo autor esteja correcta, poder-se-á também atribuir a decoração do nosso exemplar ao pintor e inspector de pintura da Vista Alegre, mestre Duarte Magalhães (1861-1944).

Trata-se de uma peça de nítida influência francesa, Sèvres ou Limoges, que adquirimos em 1999, perdida entre um bricabraque de velharias e outros artigos de colecção, num antiquário que prima por despertar a atenção, não só pelos objectos que vende, mas também pelo espaço de antiga loja de bairro que soube preservar o espírito do lugar. Apetecível, portanto. Os preços também primam pelo espírito fashion que invadiu aquele pedaço de Lisboa …


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Floreira art déco de Pierre Traverse para a Aladin - França



Peça de porcelana moldada e relevada, policroma, em que quatro personagens, estilizadas ao gosto do alto art déco de inspiração setecentista, duas damas e dois cupidos alados, de mãos dadas formam uma roda oblonga. Na saia rodada de uma das personagens femininas a marca do seu criador, P. Traverse inscrito num rectângulo. Na base, escrito à mão, Aladin e Made in France, também ambos inscritos em rectângulos.
Data: c. 1925
Dimensões: alt. 24.1 cm x comp. 25.4 cm x larg. 14.6 cm


Adquirida em Maio de1994 num antiquário de Lisboa, esta será uma peça que se pode dizer muito viajada. Criada em França pelo escultor Pierre Traverse, por volta de 1920-25, e produzida pela firma Aladin-France ou Aladin-Luxe, que fazia fabricar os seus artigos de porcelana em Limoges, destinar-se-ia à Argentina, num período em que este país era um dos mais ricos do mundo. Temos notícia de que era comercializada na elegante loja de presentes “Los Gobelinos”, em Buenos Aires, dado conhecemos exemplares que, para além das marcas que este exibe, também tinham escrito o nome da loja. Sabemos também que foi nesse país adquirida por um coleccionador brasileiro e, vendida no Brasil, por volta de 1980-90, ao antiquário a quem a adquirimos.

Parte do encanto de um objecto coleccionado está associado ao conhecimento da sua história. Dos proprietários que teve, aos lugares por onde passou até ao momento presente. Da circulação por diversas mãos e territórios até vir parar à nossa posse, questionamo-nos, fascinados, acerca da transitoriedade e da efemeridade dos seus sucessivos donos que, como elos de uma cadeia, o vão salvaguardando para o legar às gerações futuras. Na sua fragilidade, o objecto acaba por ser mais duradouro que os seus possuidores. Até um dia.




A casa Aladin editou uma vasta gama de refinados objectos decorativos de luxo tanto de porcelana como de faiança, incluindo craquelé, durante os anos 20 e 30 do século XX, com destaque para vários modelos de figuras femininas muito características criados pelo escultor francês, Pierre Traverse (1892-1979).
Discípulo do escultor Injalbert, este artista executou desde grandes e monumentais esculturas a pequenas figuras estilizadas em vários materiais. Em 1921 foi galardoado com uma medalha de prata no Salon des Artistes Français, que dois anos depois lhe haveria de atribuir uma bolsa de viagem. Em 1926 receberia a medalha de ouro e em 1942 a medalha de honra. Expôs também nos Salons d’Automne e nos Salons des Artistes Décorateurs. Membro dos grupos La Stèle e L’Evolution, expôs com estes no Pavilhão da Goldscheider na Exposição das Artes Decorativas e Industriais de 1925.
Na Exposição Internacionnal de Paris de 1937 recebeu o diploma de honra. Daí parte das monumentais esculturas que decoram o jardim do Trocadero, frente à Torre Eiffel serem da sua autoria. Expôs ainda em Londres, Nova Iorque, etc.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Velador art déco com cena galante setecentista - Limoges





Peça de porcelana moldada e vidrada a branco, representando uma cena galante à maneira setecentista com as figuras – uma dama e um gentil-homem - estilizadas ao gosto art déco. Toda a frente da peça é dominada pela figura feminina cuja grande saia se estende de lado a lado. A figura masculina aparece por detrás beijando a mão da dama que, tímida, esconde a cara com um leque que encima o eixo da composição. Lateralmente, dois arbustos geometrizados, onde se colocam as lâmpadas, enquadram a cena. É de notar a presença de pequenos orifícios que permitem a saída do ar quente. Na base, carimbo verde Limoges – France. Lateralmente no soco assinado G. Beauvais inscrito na pasta.
Data: c. 1925-30
Dimensões: 26,5 cm x 11,5 cm x 28,5 cm.

Gabriel Beauvais nasceu em Paris. Desconhecemos datas de nascimento e morte. Sabemos que expôs em todos os Grands Salons parisienses, tendo-se estreado no de Outono onde começou a expor a partir de 1909. Na célebre Exposição de 1925 participa no pavilhão das fundições Goldscheider. Mais conhecido pelas suas obras de faiança editadas pelas Editions Kaza, fez também objectos editados em porcelana, como é o caso deste velador de Limoges que adquirimos em 2006.

No período de Entre Guerras, em algumas nações europeias, caso da França e da Alemanha, a título de exemplo, parece ter havido objectos que diríamos quase fetichistas, dada a abundância de modelos e decorações criados. Se para os alemães terão sido as caixas, para os franceses as veilleuses (veladores) foram os objectos de eleição. Haveremos de publicar uma amostragem de uns e de outros.

O velador, tal como o nome indica, é uma luz de presença que mantém a tradição da vela, lamparina ou candeeiro anteriores que iluminavam a casa durante a noite, cortando apaziguadoramente a escuridão reinante, ou dotando-a de uma atmosfera sensual. Alguns acumulavam a função de perfumadores. Este não se encontra, actualmente, electrificado.

Taça com veados art déco - Sacavém




Peça de faiança moldada e relevada, estilizada ao gosto art déco, com taça em forma de flor e asas figurando veados saltando, vidrada a prata com interior a branco. Carimbos verde Gilman & Ctª – Sacavém e Made in Portugal numa oval. Inscrito na pasta 52 IP.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. 18,8 cm x comp. 42 cm x larg.21,7 cm


Esta peça, em nossa opinião, será um dos melhores exemplos de cerâmica art déco produzidos em Portugal e será um dos muitos modelos que foram exportados, como indicam os carimbos. Não sabemos quando nem quem a criou e, em termos meramente estilísticos poderíamos pensar estar em presença de mais uma peça de Donald Gilbert, associação que imediatamente fizemos quando a comprámos num leilão em Lisboa, em Março de 1999. Talvez porque parte importante da produção animalista da Fábrica de Loiça de Sacavém fosse da sua autoria, sobretudo as que conhecíamos esmaltadas a ouro ou prata. À medida que fomos tomando maior contacto com a produção do género e verificámos que muitas das peças escultóricas art déco dessa fábrica não eram do referido escultor, começaram as dúvidas. Ainda para mais, face a uma peça desta erudição e qualidade plástica e técnica, que não tem inscrito na pasta o tradicional Gilbert Sc [do latim sculpcit, i. é, esculpiu] como é usual nas peças da sua autoria. Não quer dizer que não haja excepções e que peças suas não portem assinatura. Por isso não poderemos afirmar sem provas mais concretas de quem é, afinal, a referida autoria. Quanto à datação, arriscamos com menos dúvidas balizar a sua cronologia para depois de 1925 e anterior a 1940.

A taça propriamente dita remete para uma influência neo-egípcia, pelo que estamos inclinados a vê-la como uma flor de lótus estilizada, sendo os animais inspirados também no repertório pré-clássico do Crescente Fértil.
A ideia de movimento associada à geometrização e mecanização das formas da natureza, que já aqui dissemos ser tão característica de um certo tipo de estilo art déco, está neste modelo perfeitamente exemplificada, para mais, acentuada pela cor prateada de objecto que poderia ser de metal. Na sua simetria perfeita, os dois veados saltando em sentidos opostos dão-lhe um dinamismo que só é mitigado pela estaticidade da taça.


Segundo informação contida no comentário de CP, a peça encontra-se referenciada nos catálogos de preços de 1945-1951 da Fábrica, como sendo um centro de mesa, formato veado, com o número de série 259. A imagem que a seguir reproduzimos foi-nos gentilmente cedida pelo CDMJA/MCS, a quem agradecemos. 



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Escultura de cão craquelé art déco – Sem marca





Escultura de faiança, de cor branco marfim com craquelé muito ligeiro, representando um canídeo (da raça esquimó ou husky) sentado sobre as patas traseiras e em pé. A figura do animal é esculpida a partir de um prisma quadrangular que condiciona a sua forma plástica. Sem marca.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 15 cm (base 5 cm x 5 cm)

Esta curiosíssima figura animal embora tendo sido comprada nos anos 90 do século passado em Lisboa, num antiquário de existência efémera que funcionou na Rua da Esperança, na incomparável Madragoa, por tuta e meia, não nos parece ser de produção nacional.
Apesar de anónima inclinamo-nos para que seja francesa ou belga. Só nesses dois países terão sido criados mais de meio milhar de modelos diferentes de esculturas animalistas, com qualidades plásticas de gradações qualitativas muito díspares, e diversas variantes estilísticas art déco no período de Entre Guerras.
O obediente animal de hoje, não será uma obra-prima, mas a graça das suas formas geometrizadas de influência cubista, que mantêm a lembrança do sólido geométrico onde foi esculpido, não é inexpressiva, muito pelo contrário. Em nossa opinião o escultor soube captar a essência e a frescura do animal em pose e não é a pequena dimensão que o torna menos monumental.
Segundo o livro de momento sobre craquelés, Les craquelés Art Déco: histoire et collections, de Alain-René Hardy e Bruno Giardi (2009), no princípio do século XX as expedições de Peary e de Amundsen aos pólos muito contribuíram para popularizar a fauna dessas zonas que haveria de constituir modelo de escultores que a observava nos jardins zoológicos. Já aqui tivemos oportunidade de mostrar ursos polares, que, com os pinguins, foram autênticas stars nas décadas de 20 e 30 de Novecentos. Os cães esquimós serão menos populares. Aliás, o único exemplo que conhecemos é mesmo este sem marca de fábrica e sem autoria conhecida (alguém tem alguma pista que nos elucide?). As muitas representações de canídeos no período déco são sobretudo de animais de companhia ou de lebréus. Estes últimos devido à popularidade das corridas de cães.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Serviço publicitário art déco “Chá Licungo” Sacavém



Serviço de chá para uma pessoa – égoiste - composto por quatro peças do formato Hotel: bule, açucareiro e chávena com respectivo pires. Peças de faiança moldadas, com publicidade, em dois tons de castanho. Formas arredondadas, a castanho-escuro, com friso saliente castanho mel e inscrição CHÁ LI=CUNGO a preto sob o vidrado. Na base do bule, açucareiro e chávena, carimbos a preto Gilman & Cta, Sacavém, Portugal, acrescido de H (modelo?). No bule acrescido de CD inscrito na pasta. No pires, para além do mesmo carimbo da FLS, aparece a letra F e, inscrito na pasta, BI ou 18 (?)
Data: c. 1930-40
Dimensões: Várias

A Fábrica de Loiça de Sacavém produziu uma série de serviços de chá e outras peças com publicidade. Desta produção destaca-se a relativa a diferentes marcas de chás, caso deste serviço publicitando um chá produzido em Moçambique extremamente popular em Portugal até 1974. Teremos oportunidade de aqui ir mostrando outras peças referentes a chás, todas elas dos anos 30 e 40 pelo menos. Mais uma vez o dilema da datação dos modelos e respectivas decorações, pelo que continuamos a socorrer-nos da gramática da forma e do grafismo que, em todos os exemplares que possuímos, nos remetem para o período art déco pós-1930.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Jarra «toupie» com cestos de flores art déco - Longwy



Peça de faiança moldada, esmaltada, craquelé marfim, em forma de pião, oitavada, com bojo, na zona mais larga, formado por um friso redondo onde se desenham 8 composições geométricas, tendencialmente triangulares, formadas por uma quadrícula oblíqua a azul cujos losangos são preenchidos por dois triângulos a amarelo e branco, numa estilização de cestos. As flores policromas estilizadas ao gosto art déco que os enchem surgem já nas 8 faces superiores da jarra, cujos ângulos são acentuados pela presença de linhas verticais azuis. Linhas e composições florais são feitas segundo a técnica da corda seca ou do “relevo contornado”. Bocal saliente a azul. Na base, carimbo redondo com escudo e coroa Longwy, da "Société de Faïenceries" "LONGWY "- France. Número de decor : D5053.
Data: c. 1925-30
Dimensões: alt. 22 cm x diâm. máximo 17 cm

É mais uma das jarras da Fábrica de Faiança de Longwy da célebre forma «toupie» (pião). Este exemplar será do tamanho mais pequeno que conhecemos do modelo, que, como já dissemos, é um dos nossos preferidos, pelo que o continuaremos a ilustrar nos seus diversos tamanhos e outras decorações.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Ampara-livros art déco “Veados” – Lusitânia-Lisboa





Par de ampara-livros de cerâmica moldada, dentro da gramática art déco, em forma de veados a saltar, castanho-escuro, cujos corpos são sustentados por herbáceas estilizadas, a branco, que despontam sobre o perfil de terreno ondulado, a vermelho, que forma o soco. Na base, carimbo estampado, verde, da unidade de Lisboa: escudo coroado Lusitânia, com Cruz de Cristo enquadrada pelas iniciais C F C L [Companhia das Fábricas de Cerâmica Lusitânia] sobrepujando Portugal.
Data: c. 1930 - 40
Dimensões: alt. 12,5 cm x comp. 9,7 cm x larg. 4 cm

Já aqui apresentámos uma corça saltando da Fábrica de Loiça de Sacavém, agora é a vez de mostrar mais um exemplo de escultura animal em movimento, no caso dois veados saltando, que na sua função de ampara-livros, se desenham simetricamente afrontados, da unidade fabril de Lisboa da Lusitânia. A utilização da temática animalística e/ou vegetalista estilizada, por vezes fortemente geometrizada e mesmo mecanizada, revelou-se uma tendência recorrente da apropriação da natureza no estilo art déco.
São pouco frequentes exemplos de escultura animalista, particularmente em movimento, na Art Déco em Portugal. No entanto, como se tem vindo a mostrar (e continuaremos a fazê-lo) eles existem.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Jarrão com rosas Arte Nova - Max Laeuger - Kandern



Jarrão bojudo de argila vidrada com esmaltes espessos que formam relevo, de base creme com decoração de espinhos a preto, formando uma quadrícula oblíqua que vai estreitando em direcção à base e ao gargalo, enquadrando rosas a preto e castanho alaranjado estilizadas ao gosto Arte Nova mackintoshiano. Na base, marcado na pasta, KTK inscritos num quadrado (de Kunsttöpferei Tonwerke Kandern) e 933 e 4.
Data: c. 1905-10
Dimensões: c. 25 cm x c. 25 cm

As peças produzidas em KTK, como é o caso do jarrão de hoje, embora não tenha a assinatura de Max Laeuger sobreposta à da própria manufactura, é, quanto a nós, sem dúvida da sua autoria. Veja-se o exemplar idêntico devidamente identificado exibido na Exposição de Bruxelas de 1910 (in catálogo: BREYER, Robert – German arts and crafts at the Brussels exhibition. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1910, p. 118).
Neste modelo, tal como no nosso, regista-se a presença das características rosas estilizadas à maneira de Mackintosh revistas pela Secessão Vienense.



Max Läuger ou Laeuger, (1864 – 1952) foi um dos mais importantes designers alemães. Criador multifacetado, trabalhou tanto arquitetura de interiores e jardins como o desenho industrial, a pintura, a cerâmica e o vidro, por exemplo. Tendo estudado na Academia de Artes e Ofícios, em Karlsruhe, de 1881 a 1884, onde vai dar início a uma bem sucedida carreira de ceramista, passa a ensinar desenho e modelagem na mesma escola até 1898, tendo passado a professor em 1894. Em paralelo, em 1885, estuda arquitectura de interiores e jardins, na Universidade Técnica de Karlsruhe.
As fábricas de cerâmica de Kandern estavam em crise nos finais do século XIX. A produção tradicional de aquecedores cerâmicos a que, sobretudo, se dedicavam foi arruinada pela nova produção industrial de aquecedores de ferro fundido que então invadiam o mercado. Para tentar minorar a gravidade da situação, o Ministério do Comércio do Grão-Duque de Baden escolheu Max Laeuger para modernizar a produção cerâmica desta cidade do Grão-Ducado de modo a ensinar os ceramistas tradicionais a inovar as suas produções de acordo com as novas tendências decorativas da altura. Assim, quando em 1893 Laeuger começa a trabalhar na Tonwerke Kandern, de onde provêem as primeiras cerâmicas datadas, a sua primeira fase criativa segue as tendências formais da Arte Nova (Jugendstil) com predomínio para os motivos vegetalistas, com padronagens repetitivas e regulares. Laeuguer manteve as técnicas da cerâmica tradicional criando novos padrões decorativos. Alia, assim, a perfeição do artesanato de alta qualidade à produção industrial. Um dos princípios fundamentais da Deutscher Werkbund  (da qual foi co-fundador em 1907), e, posteriormente, da Bauhaus, como já tivemos oportunidade de dizer quando falámos de Paul Speck.
Suceder-se-ão, depois, as influências da Secessão alemã e do Wiener Werkstätte. Em ambas as fases a tendência é para o preenchimento total das superfícies cerâmicas. Só depois de 1920 aparecem animais e figuração humana nas suas criações, que vão ganhando um estilo cada vez mais expressionista. É neste período, de 1921 a 1929, que é director do departamento de design da "Staatliche Majolika Manufaktur" em Karlsruhe, de que haveremos de mostrar outra jarra.
Durante os anos 30 e até 1944, Max Laeuger trabalhou como artista independente até ao bombardeamento do seu estúdio, em Pinneberg,após o que regressou a Lörrach, sua terra natal.




As peças cerâmicas, sobretudo jarras, potes e afins, com desenhos e cores aplicados com esmaltes de tal modo espessos que adquirem um relevo pronunciado, pela sua qualidade estética tornaram-se clássicas.
A produção da cerâmica tradicional com desenhos de Max Laeuger foi considerada a mais elevada forma de expressão cerâmica na Alemanha da época e influenciou muitos criadores cerâmicos do século XX.
Parte do sucesso destas peças também se deve ao pintor Hermann Hakenjos que, chegado a Kandern em 1895 com Max Laeuger, transpunha os desenhos do mestre para os diferentes modelos de forma exemplar. Haveria de ser director da fábrica de 1920 a 1929.
Graças à sua expressividade e inovação, recebe medalhas de ouro nas exposições universais de Paris, em 1900, de St. Louis, em 1904, e de Bruxelas, em 1910. Já no final da sua vida, foi-lhe atribuído o Grande Prémio da Trienal de Milão em 1951, um ano antes da sua morte.
Independentemente de todos estes predicados que acabámos de expor, Max Laeuger é uma das nossas paixões enquanto coleccionadores. Só lamentamos ter tão poucas peças da sua autoria.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Cinzeiro anos 50, modelo 630-A - Aleluia-Aveiro




Peça do mesmo modelo 630 apresentada anteriormente, mas com decoração distinta, neste exemplar devidamente identificada com a letra A. Aqui o exterior é preto, com rebordo branco, e o interior azul claro apresenta uma composição orgânica, de linhas curvas concêntricas, a branco. A qualidade desta peça é muitíssimo inferior quer do ponto de vista plástico quer técnico à do post anterior. Na base, carimbo estampado, castanho claro, Aleluia-Aveiro e Made in Portugal, em cujo centro aparece, escrito à mão a preto, %. Sob o carimbo, também escrito a preto, 630-A (modelo e decor).
Data: c. 1955
Dimensões: 12,5 cm x 10 cm x c. 6 cm


Cinzeiro anos 50, modelo 630 - Aleluia-Aveiro




Peça de faiança moldada, de forma orgânica, de taça ondeante, com decoração pintada à mão. O exterior, de cor branca, assim como o rebordo, encurva-se num dos lados sobre o interior formando a reentrância onde se pousa o cigarro. No interior, de fundo preto, recorta-se uma silhueta curvilínea de mulher estilizada, em nossa opinião de influência matissiana, a amarelo, branco, laranja e nacarado-cinza, enquadrada por um pontilhado a amarelo e laranja.Na base, carimbo estampado, castanho claro, Aleluia-Aveiro e Made in Portugal, em cujo centro aparece, escrito à mão a preto, x. Sob o carimbo, também escrito à mão a preto, 630 (modelo).
Data: c. 1955
Dimensões: 12,5 cm x 10 cm x c. 6 cm

A curiosidade da peça que se apresenta é que ela só tem o número 630 do modelo e não tem indicação da decoração que corresponderia a uma letra, tal como aventa CMP que já apresentou um cinzeiro deste modelo no seu blogue dedicado à cerâmica moderna, com outra decoração, O ou G, e alertava para a possibilidade da letra no centro do carimbo ser a identificação do pintor, o que nos parece muito plausível. No caso desta nossa peça, seria ela a primeira de uma série a que depois se deu continuidade?


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Bomboneira art déco “Mouro” - Ernst Bohne Söhne - Rudolstadt




Caixa de forma antropomórfica representando um jovem “mouro” que, fazendo uma genuflexão, apresenta uma bandeja com oferta. Trata-se de uma peça composta por dois materiais distintos, com a parte inferior de porcelana moldada e policromada, e a tampa de metal (bronze?) parcialmente lacada.
A figura, ao gosto art déco de inspiração neo-rococó, apresenta em porcelana as calças largas cor de tijolo carregado, cobertas por “camisa” comprida branca, rodada, com decoração geométrica a verde, e sapato a ouro. Este vestuário cerâmico é complementado pela parte metálica, constituída pelo tronco da personagem, vestida com gibão apertado por faixa na cintura e a cabeça, cuja cara é lacada à cor do chocolate, porta turbante. (Agradecemos que nos esclareçam se não utilizámos terminologia adequada). Na base, apresenta a marca da fábrica Ernst Bohne Söhne, em Rudolstadt, de carimbo a azul com um N coroado (utilizado até 1921), e outro circular com Made in Germany. Inscrito na pasta, Germany DRGM [Deutsches Reich Gebrauchsmuster], que significa modelo registado do império alemão.
Data: c. 1918-21
Dimensões: alt. c. 15,5 cm

DRGM é um registo de modelo mais rápido e barato que um registo de patente. Estamos em crer que terá o mesmo significado do modèle déposé francês já referido a propósito das peças de Sandoz.



A Ernst Bohne Söhne foi fundada em Rudolstadt, na Turíngia, em 1848 pelo pintor de porcelana Ernst Bohne. Após a sua morte, em 1856, seus filhos, Gustavo, Karl e David, ficaram com a gerência da fábrica agora conhecida como Ernst Bohne Söhne (filhos). Algum tempo depois, os filhos de David, Bernhard e Marta, assumiram o controlo. Em 1919, a fábrica foi vendida aos Irmãos Heubach de Lichte. De 1919 até 1930, a empresa funcionou como um ramo da Heubach Co. A partir desta data a fábrica de Rudolstad entrou em crise e fechou. Em 1937, Albert Stahl, e outros reabriram a fábrica sob o nome de Albert Stahl & Co. Vormals [antiga] Ernst Bohne Söhne.

A marca de coroa e N usada por Capo di Monte, em Nápoles, desde cedo foi amplamente copiada por muitas fábricas, por ser um símbolo de prestígio, pelo que passou a ser utilizada como marca da própria Ernst Bohne Söhne. A partir de 1891 as peças para exportação receberam carimbo circular “Made in Germany”.

No antiquário em Viena, onde o comprámos, em 1994, informaram-nos que se tratava de um objecto raro, muito coleccionável. Então nem pensávamos propriamente em colecções, mas agradou-nos a forma, o requinte e, sobretudo, a mistura de materiais pouco habitual para o gosto português.
Só recentemente compreendemos a razão de ser do comentário e a maior curiosidade da peça. Para nós tratava-se apenas de um objecto de luxo e não víamos, por desconhecimento, mais que um bonito modelo em figura do mouro, recorrente nos exotismos europeus desde o século XVIII, e que tomámos por guarda-jóias.
O divertido é a publicidade implícita que a personagem comporta, natural para o comprador germânico coetâneo, que não desconhecia a existência do Mouro Sarotti. Quer pela figura, quer pelas cores, a caixa remete indirectamente para um símbolo publicitário desvendando, assim, a sua função de bomboneira.
Isto porque em 1868 Hugo Hoffmann abriu uma confeitaria na Mohrenstraße 10 (Rua dos Mouros, 10), em Berlim, para cujo cinquentenário, em 1918, um publicista criou a figura do negro «Sarotti-Mohr» (Mouro Sarotti) – um pouco como o lisboeta «Preto da Casa Africana» - ainda hoje extremamente popular nas embalagens de chocolates da firma, mesmo depois de se ter transformado num mágico branco a partir de 2004 …