quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Jarra “Flores Art Déco” - Sacavém



Jarra de faiança moldada, em forma de balaústre, de cor branca com decoração de flores policromas e folhas verdes, delineadas a preto acentuando o desenho estilizado ao gosto art déco. Pé e bocal realçados a preto. Na base, carimbo verde Gilman & Cta - Sacavém
Data: c.1930
Dimensões: alt. 19 cm

No grafismo das flores, encontramos nesta jarra uma linguagem importada. A estilização das flores remete, em nossa opinião, claramente para a influência francesa do padrão Millefiori utilizado nas peças criadas no atelier de arte Primavera e produzidas pela Fábrica de Faiança de Longwy, de que aqui já apresentámos um exemplo, que também tinha pé e bocal realçados a preto. Contudo, se na peça de Sacavém, a qualidade dos esmaltes não está à altura da sua fonte de inspiração, de um ponto de vista meramente plástico, pela estridência da cor conjugada com o grafismo do desenho o efeito é surpreendentemente inovador e mesmo, pelo menos no contexto nacional, revolucionário.

A estilização das flores-círculo remete-nos para uma influência do orfismo dos Delaunay. São estes mesmos círculos órficos que em Portugal, sobretudo em Lisboa, vão ter impacto no desenho das serralharias artísticas aplicadas nas arquitecturas modernistas dos edifícios projectados pelo arquitecto Cassiano Branco e seus seguidores durante a década de 1930.

2 comentários:

Fábio Carvalho disse...

Olá,
Esta última foto deste belo post me fez lembrar que para a série de posts que fiz sobre louça modernista no Brasil fique completa, vou ter que falar da fábrica Itaipava, criada por um paraense e um francês, que fundiu as tendências Art Decó com os padrões Marajoaras, que já eram art decó séculos antes dos europeus ;-) !
abraços

AM-JMV disse...

Olá Fábio,
Ora aí está um bom exemplo de como culturas locais e/ou regionais, mesmo que reduzidas a meros vestígios arqueológicos, como a arte de Marajó, dessem o mote em determinadas linguagens art déco.
Na Europa a utilização das gramáticas populares de cada região, isto é, os motivos folclóricos reinterpretados por artistas plásticos, levou a que em muitos países o estilo art déco adquirisse características específicas. Ora essa questão identitária foi fundamental durante toda a primeira metade do século XX no Brasil, muito bem sintetizada na frase «Tupy or not tupy»
Perfeitamente razoável num contexto de efervescência nacionalista, essa procura das raízes identitárias de uma nação. A Europa passou o século XIX e parte da centúria seguinte a fazer o mesmo, só que por cá o resultado não foi nada positivo, acabando por culminar em duas guerras mundiais de má memória.
Mas falemos antes de coisas alegres e do optimismo que se viveu nesse mundo do período Entre-Guerras, que criou este gosto estético de que tanto gostamos e que, nos inícios dos anos 70, se baptizou de Art Déco em honra da Exposição de Paris de 1925. Um estilo tão multifacetado (e, por isso mesmo, há quem prefira sempre utilizar – quanto a nós incorrectamente - a expressão plural ars deco, e há, ainda, quem considere que não exista sequer enquanto estilo, mas não vamos por aí), ora mais sóbrio ora mais exuberante, ora mais eclético, ora mais vanguardista, que procurou e encontrou referenciais estéticos, formas, ornatos, etc, no passado, da arte pré-histórica à contemporaneidade mais vanguardista, passando pela arte das civilizações pré-clássicas, clássicas, pré-colombianas, asiáticas, etc, e pelo neo-clacissismo, pelo barroco e rococó, ou ainda pelas, à altura ditas, artes primitivas, fossem elas africanas, polinésicas ou ameríndias. Enfim, todo um manancial de referências e citações que não acabam mais.
No nosso blogue vamos pontualmente falando, caso a caso, a propósito das influências de cada peça que formos apresentando.
Abraços