segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Jarra da série “Solbjerg” – Aluminia (Dinamarca)



Jarra ovóide de faiança moldada com decoração incisa, de motivos vegetalistas estilizados, ao gosto art déco dinamarquês, recoberta uniformemente com esmalte translúcido, verde acetinado, conhecido por vellum, como se de uma velatura se tratasse, realçando e adoçando o traço subjacente. Trata-se de uma peça da série “Solbjerg”, criada por Nils Thorsson, na década de 1930, para a Aluminia. Na base carimbo castanho com A, triplamente traçado (de Aluminia), Denmark, e «u» sob o m. Carimbo a azul 1671 (Decor), número que aparece igualmente inscrito na pasta. Sabemos que se trata da forma 1657.
Data: c. 1935
Dimensões: alt. 16 cm


Pela modernidade do design da série “Solbjerg”, as peças continuaram a ser produzidas até 1969, sendo o exemplar da nossa colecção datado de 1959, dado apresentar um «u» sob o m de Denmark.
Nils Johan Thorvald Thorsson (1898 - 1975), artista cerâmico e designer da fábrica Royal Copenhagen, onde se iniciou como aprediz, em 1912, acaba por ser convidado para renovar o design da sua produção. Entre 1928 a 1969 é director artístico da Aluminia, que estava ligada à Royal Copenhagen, acumulando, a partir de 1949, o mesmo cargo nas duas.
Criou, entre outras obras, pelo menos quatro das mais conhecidas séries produzidas pela Aluminia: Solbjerg, nos anos 30; Marselis, nos anos 50; Tenera, na década seguinte, e Baca, a partir de 1964.

domingo, 27 de novembro de 2011

Potes art déco Aleluia-Aveiro





Dois potes idênticos mas de dimensões distintas, em forma de balaústre, de tampas campaniformes, com pegas em forma de três “esferas” escalonadas, que assentam sobre os gargalos listrados. À semelhança de peça da mesma fábrica e período anteriormente tratada, apresenta fundo profusamente preenchido por fina filigrana de ramagens curvilíneas cor de mel sobre fundo creme. Na parte superior do bojo recebeu uma decoração vegetalista, estampilhada e pintada à mão, três vezes repetida, em tons de castanho, que denota influências da cerâmica popular, embora as composições florais tenham recebido uma estilização art déco. Sobre este conjunto, nova estampilha, a preto, deu origem a uma composição que lembra nuvens, que se prolonga na tampa.
Nas bases de ambos, pintado à mão, Aleluia-Aveiro. No mais pequeno acrescido de C e, inscrito na pasta, 45. No maior, B e, inscrito na pasta 43.
Dimensões do maior: alt. c. 24,5 cm
Dimensões do pequeno: alt 15 cm


Apesar de no catálogo, sem data, mas quase certamente de entre 1940 - 45, cuja capa e contra-capa e respectivas fotos, apresentamos, as dimensões da peça maior serem de 21 cm, o nosso exemplar é mais alto.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Placa Cerâmica: Vendedor de peixe da Lusitânia - Lisboa

Placa rectangular, de pó de pedra, com decoração policroma e relevada realizada pelo método da tubagem a separar as cores lisas. Representa, num grafismo estilizado art déco, um costume popular - um vendedor de peixe ou varino. Segundo José Meco, realizada na oficina de azulejos, dirigida por António Costa, da Fábrica de Cerâmica Lusitânia. Verso com estrias e dupla marca Lusitânia, em relevo. Estamos em crer que a moldura é de origem.
Data: c. 1930-40
Dimensões: alt. 30,5 cm x 15 cm

Conhecemos, porque publicados, mais dois exemplos desta série, que aqui também mostramos. Aliás, é um deles que nos esclarece tratar-se da Lusitânia Lisboa, como se pode ler no carimbo que a “pastora” da colecção Mário Oliveira Soares possui no canto inferior direito. Como o da nossa colecção nunca foi retirado da moldura, não sabemos se contém esta informação. A série de placas cerâmicas, que resultou da actualização dos temas tradicionais numa linguagem adequada aos tempos modernos, foi exponenciada na decoração azulejar, recortada, utilizada no átrio e escadas de um edifício na Avenida Óscar Monteiro Torres, em Lisboa.

(ver actualização em post de 19 de Agosto de 2012).


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Jarra “Espigas” da Vista Alegre



Exemplar idêntico ao que hoje apresentamos já foi publicado no blogue Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém (MAFLS) (http://mfls.blogs.sapo.pt/72873.html) de que nos continuamos a socorrer. Mas como não é  peça única, será natural a repetição nas diversas colecções.
Trata-se de uma jarra de porcelana moldada da produção da fábrica Vista Alegre, em forma de balaústre, com decoração policroma, pintada à mão, de cor base violeta claro, sobre a qual espigas, a ouro, com os grãos em relevo, em fundo amarelo, formam arcos quebrados onde se projecta a sua sombra num violeta mais carregado, dando profundidade. Gargalo realçado por bandas nas três cores. Na estilização das espigas, ao gosto art déco, não será alheia uma certa influência do neo-egípcio tão em voga à época.
Segundo o referido blogue, trata-se do formato 1401, “tendo a sua decoração (P. 1090) sido aprovada pelo director artístico da VA, J. Cazaux (datas desconhecidas), em 17 de Dezembro de 1930.”
Na base, carimbo preto V. A. – Portugal, e, inscrito manualmente na pasta 8-5.
Data: c. 1930
Dimensões: alt. 25 cm

Mais uma vez encontramos paralelo na produção estrangeira, caso da jarra de vidro moldado, da Etling - France, com 32 cm de altura. que nos apresenta as mesmas espigas mas relevadas.


 Uma jarra idêntica foi utilizada para ilustrar o convite para a exposição Portuguese Ceramics in the Art Deco Period – A Cerâmica Portuguesa no Período Art Déco, organizada na John Cotton Dana Library da Rutgers University – Newark - que decorreu entre 24 de Fevereiro e 29 de Abril de 2005 - pelo leitor português e comissário da exposição, o professor António Joel, e que pretendeu ilustrar a produção art déco nacional, entre 1922 e 1947, expondo 180 peças de faiança e porcelana de 18 fábricas. (http://www.newark.rutgers.edu/oc/pubs/connections/pdf/winter2005.pdf). É uma pena não ter sido publicado catálogo desta exposição mas encontram mais dados sobre ela no blogue em questão (http://mfls.blogs.sapo.pt/31762.html).


Não se trata de caso único de peças de vidro darem origem a peças de cerâmica, ou o seu inverso. Na Vista Alegre conhecemos mais este exemplo, que não possuímos, um velador em forma de galo, de c. 1930 (alt. 20,1 cm x larg. 17,4 cm), da colecção Pádua Ramos, muito próximo de um galo de vidro opalino, moldado, Sabino – France, datado de c. 1925 (alt. 19,5 cm x larg. 17 cm), retirado da net:

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Azulejo Art Déco da Richard Ginori - Itália



Quando o vimos, há muitos anos. numa feirinha de velharias em Roma, na nossa inexperiência de, então, principiantes, pensámos ter encontrado um Gio Ponti (1891-1979). De facto, era da Manufattura Ceramica Richard Ginori, onde o célebre arquitecto e designer trabalhou como director artístico, de 1923 a 1930, tendo renovado a produção da fábrica, mas, depois de retirada a moldura, que é de origem, a desilusão foi grande. A assinatura era de um desconhecido G. Reale. Hoje, estamos contentes por o possuirmos.
Azulejo biselado, de cor branca, decorado com nuvem, definida por estampilha, e céu azul aerografado, envolvendo representação de um santo monge concentrado na leitura, pintado à mão, policromo, com auréola a ouro, cor das duas estrelas e das extremidades das páginas e fechos do incunábulo que lê. Trata-se de S. Domingos, desenhado a partir de uma pintura, a fresco, de Fra Angelico (1387 - 1455), para o Convento de S. Marcos, em Florença, numa reinterpretação estilizada ao gosto art déco. A figura denota, igualmente, a influência de Gio Ponti, mas de desenho mais duro. No canto superior direito, a assinatura G Reale. No tardoz, em relevo na pasta (pó de pedra?), entre faixas paralelas igualmente em relevo, as iniciais R G M [Richard Ginori - Mondovi] e 92174.
Data: c.1930
Dimensões: 14, 5 cm x 14,5 cm



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Base de candeeiro da Cerâmica S. Bernardo – Alcobaça



No seguimento da apresentação da escultura Arlequim, produzida pela Vista Alegre, e das questões que se levantam a propósito da sua autoria, que oficialmente, nos registos da fábrica está atribuída a Gauvenet, mostramos hoje, só a título de curiosidade, uma outra escultura (colecção de familiares) produzida em Portugal, cuja autoria não nos levanta qualquer dúvida.
Trata-se de uma escultura de faiança moldada e relevada, com esmalte branco craquelé, editada, na década de 1980, pela Cerâmicas S. Bernardo, em Alcobaça. Bem mais tardia, portanto, que o modelo original, da autoria do escultor francês, Jean-Baptiste Gauvenet, para Sèvres, de 1926. Na base, carimbo verde S. Bernardo – Alcobaça – Made in Portugal.
Data: 1981-85
Dimensões: alt. c. 37 cm x larg. máx. 25 cm


Fundada em 1981 pelo arquitecto Manuel da Bernarda, a Cerâmicas São Bernardo lança-se, a partir de 1985, na criação de design contemporâneo. Assim sendo, a peça retratada deverá situar-se entre 1981 e 1985. Aliás, nos anos oitenta do século passado assiste-se ao renovar, junto do grande público do estilo Art Déco - já que as elites o haviam redescoberto por volta de 1970.
Esta escultura, de uma série de modelos “bailarina” destinados à produção de Sèvres, eram para ser de porcelana policromada. Um outro modelo esteve presente na Exposição Art Déco 1925, na Gulbenkian (2009-10), em dois exemplares com decorações distintas.

domingo, 20 de novembro de 2011

Jarras Arte Nova - Rörstrand (Suécia)


Hoje apresentamos dois objectos de paixão. Duas jarras de porcelana Arte Nova da fábrica sueca Rörstrand. A primeira que adquirimos foi esta de forma esférica abatida, branca, de bojo decorado com folhas de golfão amarelo, naturalistas, recortadas e aplicadas em relevo, policromas, em tons pastel, ligadas, formando vazios, à argola do bocal. Na base, carimbo verde Rörstrand e gravado na pasta o número da forma: 30273 e um G, atribuído a Johan Georg Asplund (1873-1920 ou c. 1930) autor do modelo e pintura?.
Data: c. 1900
Dimensões: alt 9 cm x diam 12cm.



A segunda jarra, em forma de balaústre, igualmente branca, com bojo decorado em tons pastel, com três pés de roseira brava, de cor cinza, que desabrocham em igual número de rosas cor-de-rosa abertas, naturalistas, em relevo, que orlam, deixando vazios (ajouré), o bocal. Na base, carimbo verde Rörstrand e AB, iniciais da autora Anna Boberg.
Data: c. 1900
Dimensões: alt 21,5 cm x diâm 9,5 cm

A notoriedade adquirida internacionalmente pela fábrica Rörstand durante o período da sua produção Art Nouveau, entre 1895 e 1915, só teve paralelo com as produções de vidro de Tiffany e Gallé.
No atelier artístico da fábrica, o nacionalismo sueco tomava contornos de Arte. Baseando-se na fauna e flora nativas do seu país, os artistas criam elegantes objectos tridimensionais, de inultrapassável beleza. Capturam as formas orgânicas que a natureza lhes proporcionava numa combinação de pintura, contorno e movimento.
Com uma técnica perfeita aliavam a pureza das pastas à mestria da aplicação da pâte-sur-pâte. Muitas jarras viram os seus rebordos esculpidos, em relevo e formas vazadas numa paleta de sombras subtis e tons pastel, caso dos dois exemplares aqui apresentados.


Anna Boberg (1864-1935) foi uma das principais artistas da Rörstrand, sendo dela a famosa jarra “Pavão”, de 1,80 m de altura, que dominou o pavilhão da fábrica na Exposição de Estocolmo de 1897, e, em 1900, na Exposição Universal de Paris, peça que recebeu o Grand Prix. Aliás, o pavilhão sueco em Paris foi da autoria de Ferdinand Boberg, seu marido.

Bule, leiteira e açucareiro art déco Sacavém - Formato Coimbra



Na sequência do tête à tête de ontem, um bule do mesmo modelo - formato Coimbra – mas com motivo decorativo nº 672.

Bule de faiança moldada ao gosto art déco da década de 30. Corpo troncocónico, assente sobre pé circular saliente, com tampa. Bico ligeiramente contracurvado. Asa e pega relevada de perfil trapezoidal. Decoração policroma, a laranja carregado e ouro, por técnica de estampilha com pormenores à mão sobre fundo marfim, constituída por 5 linhas concêntricas no corpo e 2 na tampa a laranja. No topo, meio filete encarnado e filete concêntrico dourado. Lista dourada na asa e no bico e lista encarnada e dourada na pega. Bordo da tampa e base contornados a dourado. Carimbo a verde Gilman & Cta, Sacavém, Portugal. Carimbos HJ a preto e 5 a verde.
Data: c. 1935
Dimensões: 14,4 alt x 19,3 larg x 11,8 (diâmetro do bojo)


Leiteira e açucareiro do mesmo formato Coimbra, mas com decoração e cor diversas: um. filete concêntrico dourado enquadrado por 2 filetes desencontrados a azul e ouro de cada lado. Pé contornado a azul, assim como o bordo da asa. Na base, carimbo verde Gilman & Cta, Sacavém. Made in Portugal e, no açucareiro, carimbo azul 759 (?) da decoração.
Dimensões:
Leiteira: alt. c. 7 cm x comp. 9 cm, x larg. 6,4 cm
Açucareiro: alt. 5 cm x c. 8 cm larg. Max.


Coleccionar cerâmica tem destas coisas, umas vezes conseguimos exemplares em excepcional estado de conservação, outras nem tanto assim, mas acabamos por adquiri-los sempre com a esperança de um dia vir a comprar um melhor. No caso dos serviços, por exemplo, nem sempre conseguimos a totalidade das peças, por isso acabamos por ter apenas uma ou outra, como é o caso dos exemplares hoje apresentados. Por vezes acrescentamos mais uma, outras ficamo-nos por um único testemunho. São as leis do acaso. Mas é sempre com prazer renovado que percorremos antiquários, ajuntadores, leilões, feiras de antiguidades e de velharias, cá dentro ou no estrangeiro, a Feira da Ladra, desta cidade e de tantas outras. Depois, há todo o mundo virtual que nos traz tudo isto para dentro de casa, facilitando outro tipo de descoberta e de aquisições. Fazem-se amigos em ambas as situações.
Sempre que viajamos, os souvenirs que trazemos connosco pouco têm de turísticos. Quase sempre são objectos cerâmicos, dos períodos e estilos que nos interessam, da produção desse país, ou de outro, caso a peça nos agrade, mas sempre mais um para as nossas colecções.
Como dizia Marc Guillaume, “conservar é lutar contra o tempo”. Sentimos que em todos os coleccionadores, os que coleccionam por paixão, até mesmo os que compram por questões de prestígio ou de negócio futuro, há um sentimento, chamem-lhe nostálgico, se quiserem, de que, de alguma maneira, dentro das suas possibilidades, estão a salvar os objectos que os fascinam para que as gerações futuras também deles possam usufruir. É um acto cultural, mas também de amor, de partilha.
A história do quotidiano de todas as épocas faz-se graças ao estudo dos objectos que se utilizaram, sumptuários uns, populares outros, todos igualmente importantes independentemente do seu material ou valor monetário intrínseco.
Num mundo que avança a tão grande velocidade em termos tecnológicos – que temos alguma dificuldade em acompanhar –, mas também em termos sociais e políticos, e, paradoxalmente, ou não, o sentimento de que todo um ciclo civilizacional em que vivemos está prestes a acabar, compele-nos a coleccionar para proteger. Conservar. Porque há um plano afectivo, uma referência da memória, um sentimento de posse colectivo em risco.

sábado, 19 de novembro de 2011

Tête-à-tête art déco Sacavém - Formato Coimbra





A propósito da extremamente útil divulgação que o blogue Memórias e Arquivos da Fábrica da Loiça de Sacavém (MAFSL) (http://mfls.blogs.sapo.pt/) tem vindo, desde 2009, a desenvolver, e que ontem nos presenteou com mais uma folha de desenhos do arquivo do Museu de Cerâmica de Sacavém com o motivo 910 aplicado sobre chávena e pires formato Avenida (que aqui duplicamos), aproveitamos para apresentar o exemplar que possuímos, em que o mesmo motivo nos aparece aplicado sobre outro formato. De facto, trata-se de um serviço tête-à-tête formado por 7 peças moldadas (bule, leiteira, açucareiro, duas chávenas e respectivos pires), modelo Coimbra, em que nos aparecem os mesmos motivos vegetalistas estilizados (folhagem verde e flores a laranja), que, estamos em crer, pintados à mão a partir da aplicação de uma estampilha (stencil) e com apontamentos livres, sobre fundo marfim. Na base, carimbo verde Gilman & Cta (Gilman & Comandita) – Sacavém, Made in Portugal. Excepto nas chávenas que não têm carimbo algum. Os pires, leiteira e açucareiro apresentam 910 (?) carimbado a castanho e os primeiros numeração e palavras inscritas mas ilegíveis.
Data: c. 1931 a 1946
Dimensões: Diversas
 Encontrámos decoração idêntica na produção da fábrica inglesa Swinnertons (Staffordshire) como se pode observar na imagem que anexamos.


Quanto ao formato Avenida, sabemos que também ele tem origem inglesa. Trata-se do modelo Eve criado, em 1930-31, por Eric Slater para a Shelley Potteries, Ltd. (Stoke-on-Trent, Stafford, Inglaterra) onde era director artístico.
Em relação ao formato ora apresentado – Coimbra – também nos parece ter a mesma origem, embora ainda não o possamos comprovar.
Não eram só os modelos e as decorações que vinham de Inglaterra, de lá também vinha grande parte das matérias-primas empregues na Fábrica de Loiça de Sacavém (FLS).

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pelicano da Lusitânia - Coimbra





Escultura animalista, de cerâmica moldada e relevada, policroma, pintada a aerógrafo e à mão, representando um pelicano. Trata-se de um exemplar decalcado de modelo desenhado por Paul Walther (1876 – 1933) para a fábrica de porcelana de Meissen (Alemanha), (registo do desenho Maio 1906, modelo número W 142), que o reproduziu durante anos. Ao refinamento do original, mais naturalista, pintado em tons pastel, a Lusitânia deu origem a um objecto mais “moderno”, quer pela textura do material, quer na liberdade quase expressionista das cores fortes com que a peça foi pintada, dotando-o de um espírito mais próximo da art déco que do Jugendstil (Arte Nova) do modelo original. Na base, pouco visível, carimbo Lusitânia – Coimbra, e inscrito na pasta 113.
Data: c. 1930 - 40
Dimensões: alt. 15,5 cm



Ler: Porzellan: Kunst und Design 1889 bis 1939: Vom Jugenstil Zum Funktionalismus. Zweiter Band. Berlim: Bröhan-Museum, 1996, pág. 70





quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Jarra esgrafitada Aleluia – Aveiro




Jarra de faiança moldada, de formato ovóide recortada de forma ondeante, formando como que uma pega, cuja base branca foi decorada, a três cores. No exterior, uma faixa amarela sinuosa, debruada a branco, destaca-se sobre um fundo preto onde foram livremente esgrafitadas estrelas de cinco pontas. O interior recebeu um laranja forte. Na zona de recorte, o branco marca a transição entre cores. Na base, carimbos dourados Aleluia-Aveiro e Fabricado Portugal e, pintado à mão, a preto, x, dentro do primeiro carimbo, e 668-B.
Data: c. 1955
Dimensões: alt. c. 19,5 cm x larg. c. 9 cm

A escolha de hoje incide sobre uma jarra que consideramos muito importante na produção da Fábrica Aleluia-Aveiro, de meados dos anos 50, não só pelo forte impacto plástico, como pelas leituras interpretativas que dela podemos fazer, sobretudo porque presentes noutras peças desta época.
Reinterpretação moderna do legado moderno que foi à época a Arte Nova, neste exemplar está implícita a organicidade abstracta desse estilo fluido e curvilíneo, tanto na forma como na decoração. O seu autor, na composição que interpretamos livremente como um caminho ou fumo sob um céu nocturno estrelado, demonstra conhecimento dos movimentos artísticos, de cerca de 1900, como o Simbolismo e suas desinências, caso dos Nabis, de que Maurice Denis (1870 - 1943), aqui ilustrado, é exemplo, e outros artistas próximos da Arte Nova, como o pintor húngaro Joseph Rippl-Ronai (1861-1927), que fez cerâmicas para a célebre fábrica Zsolnay, de que apresentamos também uma jarra.



Nota: Quando em 2000 comprámos esta peça, foi-nos dito que, nos anos 50, teriam trabalhado na Aleluia-Aveiro designers belgas. Todavia, nunca encontrámos nada que o confirmasse. Infelizmente, os contactos que fizemos com a fábrica revelaram-se infrutíferos, apesar da simpatia da interlocutora. Esperamos que através deste nosso blogue, ou de outro qualquer, alguém queira partilhar informações de que disponham e se faça alguma luz sobre o assunto.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Ampara-livros “Mulher” - Cerâmica Moderna, Lda - Caldas da Rainha




Dois exemplares (infelizmente apenas um de cada) de escultura da autoria de Alberto Morais do Vale (1901-1955), em forma de mulher nua, ao gosto art déco, sentada enigmaticamente num plinto cúbico sobre soco saliente. As faces laterais são decoradas com coruja, em baixo relevo. Um de faiança moldada e relevada vidrada a azul escuro brilhante, assinado “Valle” 931, lateralmente no soco e, inscrito na base, Cerâmica Moderna Lda - Caldas da Rainha. Outro, uma versão não vidrada, ligeiramente maior, posteriormente pintada a ouro velho, o que a desfeia um pouco. Tem a vantagem de, ao não receber os esmaltes, deixar ver claramente os detalhes escultóricos e a assinatura e data impressas no soco. Na base, para além do nome da fábrica e da cidade, tem a data: 1931.
Data: 1931
Dimensões: alt. 24 cm x comp.13 cm x larg. 8,7 cm
Dimensões: alt. 25 cm x 13,7 cm x larg. 9 cm

Apesar do Catálogo da Exposição 50 anos de cerâmica caldense: 1930-1980, de 1990, referir que se trata de dois mochos, estamos em crer que se trata de corujas, o que lhe atribui um sentido distinto, dentro do seu estilo neo-classicizante, já que a coruja é o atributo de Atena e, por extensão, da Sabedoria.
A título de curiosidade, segundo nos contaram, o escultor tinha por hábito retratar o rosto de Greta Garbo em todas as figuras de mulher que esculpia em homenagem à diva que idolatrava. Assim, estaremos perante o retrato de uma personagem real, com atributos próprios de uma divindade.




Não é muito frequente a representação de nus femininos na escultura cerâmica desta época em Portugal. De nus masculinos, não conhecemos nenhum. O que abundam são as imagens folclóricas de personagens tipificadas de cada região (a fadista, geralmente a Severa, a minhota, a nazarena, e por aí fora) no gosto naturalista ainda de Oitocentos veiculado nas artes plásticas nacionais, de que Malhoa será o expoente máximo, e que o escultor também faz.